Feira feita, frutas em casa e, em poucos dias, bananas estragadas. O amadurecimento acelerado de frutas é um dos principais desafios enfrentados na cadeia de distribuição de alimentos, já que contribui significativamente para perdas pós-colheita. Isso ocorre pois, ao ser colhida, a banana continua respirando e produzindo etileno, hormônio natural que acelera o seu amadurecimento. Para retardar esse processo, uma pesquisa desenvolvida pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), em parceria com outras instituições, criou um nanossachê biodegradável inovador, capaz de liberar, gradualmente, uma substância que inibe o etileno.

A eficácia do nanossachê foi testada por meio de um sistema de embalagem ativa – uma tecnologia que, além de proteger, interage com o alimento para prolongar sua qualidade e vida útil. No caso, a embalagem foi aplicada em bananas da cultivar “Prata”. Os resultados mostraram que essas bananas mantiveram sua coloração verde, maior firmeza, menor perda de massa e menor taxa respiratória ao longo de nove dias de armazenamento, quando comparadas às bananas sem o sachê.

Além de ser biodegradável e sustentável e apresentar um desempenho tecnológico promissor, o material é compatível com esses sistemas de embalagem ativa, oferecendo uma alternativa viável para a conservação de frutas climatéricas, aquelas que continuam a amadurecer após a colheita.

“O amadurecimento rápido provoca perdas significativas durante o transporte, a comercialização e, até mesmo, no domicílio do consumidor. Nosso nanossachê aumenta sua vida útil e contribui para a conservação dos alimentos, da colheita até o consumo, reduzindo prejuízos financeiros para agricultores, distribuidores e comerciantes, além de beneficiar o consumidor final, ao propiciar frutas mais frescas por mais tempo. Afinal, a tecnologia pode ser aplicada, eficientemente, em bananas e outros frutos verdes, bem como no início do amadurecimento”, observa o orientador do estudo e professor da Escola de Ciências Agrárias de Lavras (Esal/UFLA) Eduardo Valério de Barros Vilas Boas.

O estudo também representa um avanço na aplicação de nanotecnologia no setor alimentício e contribui para o uso de materiais biodegradáveis e seguros para contato com alimentos, reforçando práticas sustentáveis. Por se tratar de uma tecnologia emergente, a aplicação em escala comercial ainda depende de estudos complementares, como a definição da concentração ideal de 1-MCP para cada tipo de fruta e a quantificação precisa da liberação do composto no interior das embalagens. A equipe responsável afirma estar aberta a parcerias com empresas e instituições que queiram contribuir para o avanço da pesquisa e sua futura inserção no mercado.

A metodologia

Os pesquisadores criaram o nanossachê a partir de um polímero biodegradável chamado Poliácido Lático (PLA), seguro para contato com alimentos. Esse material foi transformado em uma manta de nanofibras por meio de uma técnica inovadora chamada “Fiação por Sopro em Solução” (“Solution Blow Spinning”), que forma fibras ultrafinas, ideais para a liberação controlada de substâncias.

Dentro dessas fibras foi encapsulado um composto conhecido como 1-metilciclopropeno/α-ciclodextrina (1-MCP/α-CD). O 1-MCP é um gás responsável por bloquear a ação do etileno. Para manipulá-lo de forma segura e eficaz, ele foi combinado com a molécula carreadora, a α-CD, que permite que o 1-MCP seja manipulado na forma de pó e libera o ativo apenas na presença de umidade.

Os pesquisadores destacam que o diferencial da tecnologia desenvolvida no projeto está justamente no uso de mantas de nanofibras poliméricas. Reconhecidas pela capacidade de promover a liberação controlada e gradual de compostos ativos, essas mantas podem oferecer maior precisão e versatilidade no tratamento de diferentes frutas e hortaliças.

O material passou por diversas análises em laboratório, incluindo testes de estrutura, estabilidade térmica, composição química e interação com a água. Em seguida, sua eficácia foi testada nas bananas ‘Prata’, que foram armazenadas com e sem o nanossachê. Para confirmar que as bananas armazenadas com o nanossachê apresentaram amadurecimento mais lento, os pesquisadores monitoraram os indicadores de mudança de cor, firmeza da polpa, perda de massa, taxa de respiração e doçura.

Mais sobre a equipe e a pesquisa

A tese “Desenvolvimento de embalagens ativas a partir de mantas poliméricas nanoestruturadas e aplicação na pós-colheita de frutas” (“Development of active packaging from nanostructured polymeric mats and application in fruit post-harvest”) foi defendida em 2023 pela egressa do Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Alimentos (PPGCA/UFLA) Hanna Elisia Araújo de Barros, sob a orientação do professor Eduardo.

Já o artigo “Um novo nanossachê produzido por fiação por sopro em solução para retardar o amadurecimento de bananas com mantas poliméricas nanoestruturadas biodegradáveis que emitem 1-metilciclopropeno” (“A new nano-sachet manufactured by solution blow spinning to retard ripening of bananas using biodegradable nanostructured polymeric mats emitting 1-methylcyclopropene”) foi publicado em 2024, na revista Postharvest Biology and Technology.

Além do professor Eduardo e de Hanna, participaram do estudo pesquisadores da UFLA e de outras instituições nacionais e internacionais: Elano Pinheiro Pereira, Gilson Gustavo Lucinda Machado e Elisângela Elena Nunes Carvalho, do PPGCA/UFLA; João Paulo Lima de Oliveira, da Esal/UFLA;  Juliano Elvis de Oliveira, da Escola de Engenharia (EEng/UFLA); Caio Vinicius Lima Natarelli, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); Ingrid Alves Santos, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb); Lenilton Santos Soares, do Centro Multidisciplinar de Barra, da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob); e Dr. Marcelo Franco, da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).

 

Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais - Fapemig.

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