Na busca por maior visibilidade no Instagram, alguns nutricionistas desrespeitam o Código de Ética e de Conduta da profissão ao indicar dietas restritivas e compostos alimentares que prometem efeitos milagrosos, segundo os resultados de uma pesquisa do Departamento de Nutrição (DNU) da Universidade Federal de Lavras (UFLA). A pesquisa foi destaque no Jornal Hoje em Dia, publicada nesta quarta-feira (27/3): Ciladas no Instafood: veja os erros mais comuns e as consequências das dietas de redes sociais.
O estudo, orientado pela professora do DNU Maysa Helena Toloni, analisou as postagens de 51 nutricionistas, com mais de dois mil seguidores, nos quesitos prescrição de cápsulas, fotos de antes e depois, orientação de dietas e comentários dos usuários. “A ideia do estudo era avaliar a influência que as postagens dos nutricionistas poderiam causar nos seguidores e investigar se as postagens eram guiadas pela ética ou mero marketing profissional”, explicou a pesquisadora e nutricionista Grayce Kelly de Andrade.
A pesquisa apontou que profissionais da área movimentam, com frequência, seus perfis em torno de dietas sem glutén, sem lactose, "low carb", jejum intermitente e dieta cetogênica (baseada no alto consumo de proteínas e lipídeos). Várias publicações contam com propagandas de produtos patrocinados por empresas.
Outros erros usados para captar e reter seguidores são a divulgação de informações sem embasamento científico e o estímulo ao consumo de suplementos alimentares caros, desvinculados da cultura alimentar do brasileiro. "Cápsulas de Ascophyllan,conhecida como alga marrom, ou de carvão ativado são exemplos das formulações publicadas por alguns profissionais devido aos compostos bioativos, que podem ser encontrados facilmente em alimentos in natura. Alguns dos produtos divulgados possuem restrições de consumo pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Algumas embalagens não explicam o que é e não têm evidências dos resultados em artigos científicos”, esclareceu Grayce.
As práticas vão contra o Código de Ética e de Conduta da Nutrição, arcabouço de princípios, responsabilidade, direitos e deveres norteadores da prática diária dos profissionais da área. Atualizado em março de 2018, o texto esclarece ser dever do nutricionista adequar as práticas profissionais às necessidades de cada indivíduo, "não ceder a apelos de modismos, a pressões mercadológicas ou midiáticas e a interesses financeiros para si ou terceiros." Fotos de pacientes antes e depois de seguir um suposto plano alimentar são proibidas. "Contudo, muitos ainda publicam", comenta Grayce.
Matéria da pesquisa realizada pela jornalista Pollyanna Dias.