Pesquisadora Andressa Sene analisa exemplar encontrado durante as coletas da pesquisa

Uma pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada da Universidade Federal de Lavras (PPGECO/UFLA), em parceria com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), objetivou entender a distribuição atual de peixes no reservatório da usina hidrelétrica de Itutinga, em Minas Gerais. O estudo revisitou dados de um levantamento realizado há 30 anos por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e revelou mudanças significativas na fauna de peixes.

A equipe, composta por pós-graduandos e pesquisadores da UFLA, identificou 12 novas espécies de peixes que não haviam sido listadas anteriormente, incluindo quatro não nativas - que não eram originalmente encontradas na região e foram introduzidas, muitas vezes acidentalmente, por ações humanas - e duas migradoras - que se deslocam entre diferentes habitats ao longo de seu ciclo de vida, geralmente para reprodução.

Além do registro dessas espécies, foi observada uma alteração na abundância das já existentes.  “Espécies que eram muito abundantes no passado atualmente são bem menos encontradas, e vice-versa. O mandi-amarelo, que era a espécie mais importante no levantamento anterior, diminuiu sua abundância, ao passo que os tucunarés, que não estavam listados antes, são, agora, relativamente abundantes”, explicou o professor do Instituto de Ciências Naturais (ICN/UFLA) e orientador do estudo, Paulo Pompeu.

O estudo também destacou a ausência de alguns peixes anteriormente comuns, como o dourado, que é uma espécie migradora e necessita de rios livres para completar sua reprodução. A pesquisa identificou cinco espécies que deixaram de ser capturadas no reservatório: Leporellus vittatus (piau), Salminus hilarii (tabarana), Salminus brasiliensis (dourado), Hypostomus myersi (cascudo) e Hypostomus strigaticeps (cascudo). 

Segundo Paulo Pompeu, a maior riqueza de espécies encontrada no estudo recente, ou desaparecimento de algumas espécies registradas no estudo anterior, não indica que o ambiente tenha piorado ou melhorado. “A substituição de espécies em reservatórios é um fenômeno comum, e mostra como estes ambientes são dinâmicos. Apenas o aparecimento de novas espécies não nativas merece atenção, já que sua presença pode resultar em impactos sobre a fauna nativa”.

Andressa Mendes da Silva Sene, mestre em Ecologia Aplicada pelo PPGECO e responsável pelo estudo, destacou a motivação da pesquisa. “Durante o mestrado, identificamos o potencial de gerar um novo artigo ao revisitar o levantamento feito pela equipe liderada pelo pesquisador Carlos Bernardo Mascarenhas Alves, realizado há mais de 30 anos. O reservatório de Itutinga é um sistema fechado, sem contribuição de rios livres, o que nos levou a questionar se a fauna de peixes havia mudado significativamente com o tempo.”

Coleta e levantamento

As coletas ocorreram entre março de 2019 e dezembro de 2021, utilizando a mesma metodologia do estudo anterior. Foram utilizados métodos de coleta por redes de amostragem e por arrasto. O primeiro utiliza redes com malhas de tamanhos variados, colocadas em locais estratégicos para a coleta de amostras. O segundo utiliza redes de malha pequena, que são passadas em praias e ambientes mais rasos, fazendo um cerco e capturando os peixes do local.

O novo levantamento coletou 37 espécies de peixes, enquanto no estudo de Alves foram 25. É importante ressaltar que alguns fatores influenciaram nessa coleta, como o fato de os pesquisadores da UFLA terem ido mais vezes ao reservatório. 

O reservatório de Itutinga começou a operar em 1955, e é um ambiente fechado, o que significa que não recebe água de rios externos e tem um fluxo de água limitado pela barragem da Usina Hidrelétrica de Itutinga (UHE). “As quatro espécies não nativas acrescentadas à lista original provavelmente foram introduzidas devido à demanda por pesca esportiva e/ou introduções acidentais”, disse Andressa. 

As descobertas do levantamento reforçam a importância do monitoramento a longo prazo e os impactos das alterações antrópicas no ambiente e, consequentemente, na comunidade de peixes. O artigo é resultado do trabalho desenvolvido por Andressa no mestrado, com colaboração de Ivo Gavião Prado e Carina Patez Porto, sob orientação do professor Paulo Santos Pompeu, e recebeu o título “The fish fauna of Itutinga reservoir, 30 years after the first survey”.

O estudo que inspirou a pesquisa é intitulado “A Ictiofauna da Represa de Itutinga, Rio Grande (Minas Gerais - Brasil)”, e foi realizado pelos pesquisadores da UFMG Carlos Bernardo Mascarenhas Alves, Alexandre Lima Godinho, Hugo Pereira Godinho e Vasco Campos Torquato. O artigo não está disponível para consulta on-line.

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