Avaliar, de forma eficiente, o impacto das atividades humanas sobre a biodiversidade é essencial para a criação de estratégias adequadas à conservação ambiental. Por isso, pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e do Lancaster Environment Centre (Inglaterra) dedicaram-se a investigar os efeitos da exploração madeireira sustentável sobre a biodiversidade da Amazônia. Parte da pesquisa está consolidada em artigo publicado nesta semana na revista Journal of Applied Ecology.

Acesse o artigo completo.

O estudo comparou duas metodologias de avaliação dos impactos causados por distúrbios florestais sobre a biodiversidade tropical. A primeira metodologia, conhecida como Space-For-Time substitution (SFT), é predominante na literatura científica, já que a maioria das pesquisas é realizada após a ocorrência dos distúrbios (incêndios e extração madeireira, por exemplo). Nesse caso, áreas florestais não perturbadas são consideradas como referência (ou controle) espacial das áreas perturbadas.

Por outro lado, quando pesquisadores têm acesso às áreas antes do manejo florestal, eles podem usar o método Before-After Control-Impact (Baci). Esse método experimental permite a comparação da biodiversidade antes e após a ocorrência do distúrbio e entre áreas perturbadas e não perturbadas.

Para comparar os resultados da aplicação dessas duas metodologias, a pesquisa investigou os efeitos do corte seletivo sobre besouros escarabeíneos na Amazônia. Esses besouros foram escolhidos por serem considerados um excelente grupo bioindicador, ou seja, são bons indicadores da qualidade ambiental, pois estão intimamente relacionados às características ambientais. Também apresentam vantagens na relação custo-benefício de amostragem.

Os resultados da investigação, segundo os pesquisadores, são de grande importância para o manejo florestal em áreas de floresta tropical. A grande relevância está no fato de a pesquisa revelar que a metodologia Baci demonstrou efeitos significativos sobre a diversidade de besouros a partir da intensificação do corte seletivo, enquanto a metodologia SFT – a mais adotada em estudos ecológicos – subestimou a perda de espécies quase pela metade.

A pesquisa é parte da tese de doutorado defendida pelo pesquisador Filipe França. Seu doutorado foi desenvolvido em programa de dupla-titulação – fruto da parceria entre a UFLA e a Lancaster University – sob a orientação dos professores Júlio Louzada (Departamento de Biologia, UFLA) e Jos Barlow (LEC, Lancaster University). A pesquisa também contou com o apoio da equipe do Laboratório de Ecologia e Conservação de Invertebrados (UFLA) e do Tropical Group (LEC).

Para Filipe, a produção do trabalho foi compensadora e tem implicações para a Biologia da Conservação e o Manejo Florestal. “Nossa pesquisa evidencia que o uso da metodologia Space-For-Time (SFT) pode subestimar a perda de biodiversidade tropical associada aos distúrbios florestais. Além disso, nós mostramos que grandes perdas na biomassa e diversidade dos besouros escarabeíneos aconteceram nas áreas com maior intensidade de corte seletivo”.

A partir dos resultados do estudo, o pesquisador destaca que o uso do método Baci deve ser incentivado, por meio de fontes de financiamento de longo-prazo para a coleta de dados, além de uma boa relação entre pesquisadores e setor privado (proprietários de terra e empresas madeireiras, por exemplo). “Sabemos que a recorrência à abordagem SFT é, muitas vezes, o único recurso, pois muitos pesquisadores só têm acesso às áreas de estudo após a ocorrência do distúrbio; além disso, o método Baci possui muitos desafios logísticos. No entanto, defendemos um bom planejamento experimental e o desenvolvimento de maior número de pesquisas que possam subsidiar melhor a busca pela sustentabilidade do manejo florestal”, avalia Filipe.

Da esq. p/ dir.: Edvar Correa (guia do grupo de pesquisa) , Jos Barlow (orientador no LEC, Lancaster University), Toby Gardner (colaborador, Stockholm Environment Institute), Filipe França (autor do estudo pela dupla-titulação UFLA-LEC) e Júlio (orientador no DBI/UFLA). Foto: Filipe França.

Para o orientador brasileiro de Filipe, professor Júlio, a experiência da dupla-titulação contribui muito para a alta qualidade do trabalho desenvolvido. “É um meio pelo qual a interação do estudante com as duas instituições ocorre durante toda a sua formação no  doutorado, desde o planejamento da pesquisa até a publicação da tese. Desse processo, resultou um trabalho que pode alterar a percepção da comunidade científica sobre as pesquisas da área. A primeira publicação de resultados já ocorre em uma das revistas mais importantes do mundo na área”, avalia.

Atualmente, outros três estudantes do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada da UFLA estão em Lancaster para dupla-titulação. Há também dois estudantes da instituição britânica em atividade no Programa. O pesquisador Jos Barlow, que orientou Filipe, permaneceu na UFLA por 12 meses durante seu período sabático. O retorno à Inglaterra ocorreu recentemente. A parceria da UFLA com a Lancaster University abrange ainda outros programas de pós-graduação da instituição.

A contribuição da experiência Internacional

Durante o doutorado, Filipe permaneceu um ano na Inglaterra dedicando-se à sua pesquisa. Ele relata que o programa de dupla titulação e a parceria com a Lancaster University foi muito enriquecedora para o estudo. “A experiência foi incrível e contribuiu para o amadurecimento da minha forma ‘de fazer ciência’. É impossível não passarmos por uma transformação. O que aprendi nesse processo melhorou a qualidade da minha pesquisa e o meu desenvolvimento acadêmico.”

O tempo de permanência na instituição estrangeira também permitiu ao pesquisador ampliar suas relações pessoais. “Eu até esperava ir morar num local frio e nublado (como foi realmente), mas conhecer pessoas tão amáveis e fazer boas amizades foram as melhores surpresas que eu poderia ter.”

Filipe descreve, ainda, a fase da pesquisa desenvolvida na Amazônia como algo marcante. “Realizei dois sonhos durante meu doutorado: um deles era viver e estudar na Inglaterra; e o outro era o de conhecer, morar e pesquisar a Floresta Amazônica, a maior floresta contínua do mundo. Desde quando iniciei a graduação em Ciências Biológicas na UFLA, eu tinha interesse em trabalhar na Amazônia. Hoje, sinto-me extremamente realizado”.

Dividindo seu tempo entre a região quente, ensolarada e úmida da floresta tropical e a região fria e nublada de Lancaster, Filipe diz ter aproveitado intensamente as oportunidades. “Foi realmente uma experiência fascinante e já planejo novos estudos na Amazônia”.

Observe na imagem a representação gráfica da pesquisa (Infográfico produzido por Filipe França).

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