Após cinco anos de intenso trabalho e pesquisa, a UFLA concluiu o modelo fitogeográfico da Bacia do Rio Grande, cujo propósito é dar subsídio a programas de revitalização das áreas legalmente protegidas e propiciar o desenvolvimento sustentável, por meio de uma parceria com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Trata-se de um sistema gratuito que gera relatórios de forma rápida e simples para o produtor rural.
Durante esses anos de pesquisa, foi levantada a diversidade arbórea no Rio Grande e seus afluentes. Agora é possível saber quais espécies são apropriadas para cada local, de forma a manter todo o equilíbrio da diversidade da flora. É um importante estudo para fazer a recomposição das áreas legalmente protegidas, com um levantamento florístico, quantificação de carbono e ainda uma análise de espacialização dos habitats das espécies árboreas.
Após acessar o sistema, o produtor rural responde a um questionário (de preferência com a ajuda de algum especialista); em seguida, é gerado um relatório que mostra qual a melhor estratégia de recuperação dos ecossistemas a ser adotada. “De acordo com o Código Florestal de 2012, o produtor rural terá 20 anos para fazer a recuperação de suas áreas. E como fazer? Nesse ponto, é que entra a contribuição do projeto. Após intensa pesquisa, chegamos ao conhecimento científico de quais são as espécies de ocorrência natural naquela região, indicadas para a recuperação. Agora, a execução depende totalmente do produtor. Por meio do conhecimento científico da Universidade, chegamos a um sistema com uma interface amigável e, agora, a sociedade pode acessá-lo para ter uma melhor orientação do que deve ser feito”, explica o coordenador técnico do projeto, professor Lucas Rezende Gomide.
A linha principal do projeto foi a criação de um modelo fitogeográfico para auxiliar os produtores rurais na recomposição das áreas da Bacia do Rio Grande, principalmente as ciliares, por meio da construção de uma base muito sólida, com um alto nível de detalhamento. “Nós trabalhamos com bases reais. Fomos a campo e realizamos todo o levantamento necessário. Somando, com isso, a base do projeto do professor Scolforo, do Inventário de Minas, tivemos um arcabouço grande de dados de ocorrência dessas espécies ao longo da Bacia. Usando a inteligência computacional, relacionamos essas variáveis com as climáticas; assim, conseguimos verificar quais espécies poderiam ser indicadas para recompor as áreas ciliares”, comenta o coordenador.
Após localizar mais de mil espécies arbóreas na região, os pesquisadores reuniram todas as informações ambientais com o inventário florestal e fizeram um cruzamento para a devida indicação de espécies para um plano revegetação. “Normalmente o produtor começa a plantar espécies que consegue comprar no viveiro mais próximo da sua região. Porém nesse ecossistema há uma diversidade de espécies específicas. Por isso, ao plantar a espécie de outra região, a chance de dar certo é pequena. Sabendo a espécie correta, estaremos aumentando a taxa de sucesso e ajudando a manter as espécies regionais”, destaca a professora Soraya Alvarenga Botelho, umas das pesquisadoras do projeto.
Assim, por meio do modelo fitogeográfico, foi possível gerar um mapa de recomendação de espécies e boas práticas de manejo para uso e conservação do solo e da água nos diferentes ambientes, o que vai possibilitar um planejamento estratégico para a revitalização de uma das mais importantes bacias hidrográficas do País. “Ampliar o conhecimento sobre os recursos naturais significa aplicar uma gestão ambiental correta e sustentável”, salienta o reitor da UFLA, professor José Roberto Soares Scolforo, coordenador geral do projeto.
Trabalho multidisciplinar
Além dos professores Lucas e Soraya, o projeto contou com a participação de outros 16 pesquisadores da UFLA: Anderson Cleiton José; Antonio Carlos Ferraz Filho; Antônio Carlos da Silva Zanzini; Antônio Donizette de Oliveira; Carlos Alberto Silva; Dulcinéia de Carvalho; Fausto Weimar Acerbi Júnior; Gilberto Coelho; José Roberto Soares Scolforo; José Márcio de Mello; Luís Antônio Coimbra Borges; Lucas Melo Amaral; Luiz Marcelo Tavares de Carvalho; Marco Aurélio Leite Fontes; Rubens Manoel dos Santos, e Warley Augusto Caldas Carvalho. Contando ainda com o auxílio dos engenheiros e técnicos da UFLA: Kalill Pascoa, Thiza Altoé e Thiago Meireles.
O projeto também trabalhou com outras temáticas para poder compreender melhor esse ambiente, sendo elas: conservação dos solos; conservação genética; estoques de carbono, entre outras. Como produto final, além do sistema on-line, será lançado um livro com a relação das espécies; técnicas de recuperação possíveis; relação de quais espécies os viveiros da região produzem, entre outras informações.
As análises foram processadas no Laboratório de Estudos e Projetos em Manejo Florestal –Lemaf, referência no desenvolvimento de grandes projetos ambientais.
Acesso ao sistema
O sistema, gratuito, já está disponível aos produtores rurais e pode ser acessado no site: http://sig.projetoriogrande.ti.lemaf.ufla.br/. Basta baixar o programa do modelo fitogeográfico e instalar no computador.
Bacia do Rio Grande
A Bacia do Rio Grande estende-se por mais de 8,5 milhões de hectares, em uma área que alcança 393 municípios dos estados de Minas Gerais e São Paulo. Ocupa aproximadamente 15% da área total de Minas; 60,2% da bacia estão nesse estado e 16% são de cobertura vegetal nativa. Na Bacia do Rio Grande estão localizadas usinas hidrelétricas da Cemig e de outras concessionárias, como Volta Grande, Camargos, Itutinga e Furnas.
Essa e outras reportagens científicas desenvolvidas com estudos da UFLA você confere na revista Ciência em Prosa. Boa leitura!
Camila Caetano, jornalista Dcom/UFLA
Roteiro e Edição do Vídeo: Ana Carolina Rocha e Rafael de Paiva - estagiários Dcom/Fapemig