Estudo revelou, entre outras coisas, que as maiores populações de nematoides são encontradas em solos dos árticos e em regiões de alta latitude.
Encontrados geralmente no solo, os nematoides são popularmente conhecidos como vermes microscópicos e participam de vários processos como auxilio na decomposição da matéria orgânica. Apesar de serem considerados os seres vivos mais abundantes do nosso planeta, as pesquisas sobre sua importância para o ecossistema ainda estão em andamento. Uma delas, com a contribuição do pós-doutorando Julio Carlos Silva, do Departamento de Fitopatologia da UFLA, foi publicada recentemente como artigo na Revista Nature.
O estudo foi idealizado pelo Crowther Lab da Suíça, um laboratório formado por um grupo de cientistas de várias áreas focado em estudos de processos ecológicos que influenciam as mudanças climáticas. Por isso, a pesquisa contou com a participação de cientistas do mundo todo.
Do Brasil, além de Júlio, participaram do projeto pesquisadores da Embrapa Semiárido e da Universidade de Brasília (UnB). “Solos de diversas partes do Brasil foram enviados para a UFLA, onde foi realizada a extração e análise em microscópio desses nematoides para observar sua diversidade em cada solo, ou seja, quantos nematoides de cada grupo havia naquele solo. Depois, esses dados foram enviados para a Suíça, onde foram feitas as análises em modelo matemático.”
Do mundo todo, quase 7 mil amostras de solo foram analisadas por uma equipe de 70 pesquisadores e os resultados mostraram estimativas como número de nematoides, a emissão do gás carbônico desses nematoides e a relação com a diversidade e distribuição no mundo.
O estudo forneceu evidências conclusivas de que a maioria desses animais vive em altas latitudes: 38,7% dos nematoides do solo existem nas florestas boreais e na tundra na América do Norte, Escandinávia e Rússia; 24,5% em regiões temperadas; e apenas 20,5% nos trópicos e subtrópicos.
“Nesse trabalho, pudemos perceber que, ao contrário de animais e organismos que vivem acima do solo, a maior diversidade de nematoides está abaixo do solo, e em regiões árticas e temperadas, ou seja, temos mais nematoides nas regiões de latitude mais alta e frias do que nas de latitude mais baixa e mais quentes ”, explica o pesquisador.
Conforme a pesquisa, o número mundial de nematoides do solo é de cerca de 400 quintilhões, sendo 57 bilhões para cada ser humano. Esses seres invisíveis a olho nu possuem um total de 300 milhões de toneladas - aproximadamente 80% do peso combinado da população humana da Terra.
Para Júlio, o trabalho apresenta uma grande relevância científica, principalmente para observar as mudanças climáticas que a terra tem sofrido. “No futuro, poderemos comparar esses dados para saber se esses nematoides se mantiveram naquelas áreas que tem maior diversidade, ou se variaram devido a fatores como o aquecimento global. A partir disso, poderemos pensar em manejo do solo de maneira mais adequada para manter nossa biodiversidade”, conclui Júlio.
O artigo denominado 'Soil nematode abundance and functional group composition at a global scale' está disponível no link: https://www.nature.com/articles/s41586-019-1418-6
Reportagem: Karina Mascarenhas, jornalista - bolsista Dcom/Fapemig
Imagens: Eder Spuri - bolsista Dcom/Fapemig
Edição do Vídeo: Rafael de Paiva - estagiário Dcom/UFLA