Convivemos diariamente com diversos tipos de microrganismos, presentes no solo, na água e até mesmo no ar que respiramos. Estudos recentes apontam a importância de bactérias na meteorologia e até mesmo no clima de nosso planeta. “A atmosfera é um sistema bastante complexo, contém diversos microrganismos que são emitidos por diferentes fontes e estão sempre em suspensão no ar”, esclarece o meteorologista e professor do Departamento de Recursos Hídricos e Saneamento (DRS) Marcelo Vieira da Silva Filho.
O pesquisador, juntamente com a professora Luciene Alves Batista Siniscalchi (DRS), coordena desde 2018 uma pesquisa inovadora que tem como objetivo identificar os principais microrganismos presentes na atmosfera através da água da chuva coletada na UFLA. Tais microrganismos (bactérias, fungus e vírus) quando em suspensão na atmosfera são classificados como bioaerossóis, ramo interdisciplinar da ciência que compõe a Aeromicrobiologia e a Meteorologia. Dentre os bioaerossóis, a pesquisa visa a identificação de bactérias, e qual seu papel na atmosfera, como comenta Marcelo: “As bactérias presentes na atmosfera podem funcionar como núcleos de condensação de nuvens, que por sua vez, iniciam o processo de formação de nuvens por exemplo, e alguns desses microrganismos participam inclusive do ciclo hidrológico”.
A professora Luciene enfatiza a importância de conhecermos essas bactérias, através de métodos de seleção e cultivo bacteriano em placas, identificando e quantificando as mesmas. “Além disso, o grupo de trabalho envolvido têm relacionado a diversidade e abundância encontrada, com os fatores abióticos mensurados. Assim, a identificação de gêneros e/ou espécies e sua relação com o ambiente pode nos ajudar a entender os fenômenos meteorológicos e impactos ambientais. Acreditamos que essa área, ainda em crescimento, têm muito a corroborar pois conecta, dentro das ciências ambientais, diferentes áreas do conhecimento”, comenta a docente.
As amostras da água de chuva são coletadas semanalmente e, posteriormente, os microrganismos são isolados em laboratório. Dois deles já foram identificados, conforme explica a estudante do 10º período de Engenharia Ambiental e Sanitária Larissa Lucas Barros: “dos microrganismos isolados, identificamos bactérias dos gêneros Staphhylococcus e Micrococcus, que também foram encontradas em uma pesquisa realizada pela Nasa na alta troposfera. Também observamos que há uma sazonalidade de bactérias, ou seja, sua presença é influenciada principalmente por fatores meteorológicos, como temperatura e umidade relativa do ar.”
O próximo passo do estudo é continuar a identificar diferentes microrganismos presentes na atmosfera e sua sazonalidade. “É importante destacar que há uma escassez de trabalhos acadêmicos nessa área no Brasil. Os estudos sobre a microbiologia e ciências atmosféricas são encontrados na Europa e nos Estados Unidos. Então, se conseguirmos identificar esses microrganismos presentes na nossa atmosfera local, isso pode contribuir para entendermos uma série de impactos ambientais que ocorrem tanto no solo como em corpos d’água e que podem causar prejuízos futuros ”, finaliza o professor Marcelo.