Paisagens com uma vegetação seca, árvores desfolhadas; além de calor intenso e escassez de água são características marcantes associadas às florestas tropicais sazonalmente secas (FTSS), que tem conquistado um crescente interesse da comunidade científica nacional e internacional. Porém, a mineração de calcário constitui a principal ameaça a esses afloramentos.
Para conhecer mais sobre a flora desses ambientes, que ainda são limitados, pesquisadores do Laboratório de Fitogeografia e Ecologia Evolutiva da UFLA, sob a coordenação do professor Rubens Manoel dos Santos, estudaram o seu potencial e coletaram informações sobre identidade, diâmetro e altura de árvores de diferentes habitats associados a um afloramento de calcário ao sul da Caatinga, no norte de Minas Gerais (MG).
Os pesquisadores apontam que por oferecer condições de estabilidade geológica, aridez e fertilidade dos solos associados, o calcário tornou-se um refúgio para as espécies típicas das florestas secas. Além disso, eles também são lar de uma outra variedade de plantas, como suculentas, cactos, lianas e uma gama de espécies de invertebrados, répteis e mamíferos.
A estudante Natália Campos, que participou das pesquisas, explica que, “devido a esse mosaico temporal identificado nos habitats desse afloramento, outras regiões devem ser investigadas em termos de diversidade de linhagens evolutivas, para compreender mais amplamente o histórico biogeográfico dessas florestas”.
Florestas secas
No Brasil, as florestas secas são tipicamente encontradas no domínio das Caatingas e, associadas a solos férteis, sendo a sua maioria de origem calcária, em pequenos fragmentos no domínio dos Cerrados. Curiosamente, essas florestas também ocupam diferentes habitats de afloramentos calcários, grandes rochedos em que, mesmo onde o solo é raso e pontual, espécies de florestas tropicais sazonalmente secas conseguem se estabelecer e se reproduzir.
“Tendo em vista o conhecimento até agora construído sobre o clima do passado e a biogeografia de FTSS na região, o estudo sugere que os ambientes do afloramento representaram refúgios para a diversidade arbórea de FTSS durante flutuações climáticas no passado. Isso porque durante o período do Pleistoceno (entre 2,6 milhões e 11,7 mil anos atrás), a América do Sul foi palco de intercalações entre momentos frios e secos (glaciações) e momentos quentes e úmidos (interglaciações), ciclos que se estima terem ocorrido mais de 20 vezes neste período”, explica o professor Rubens.
De acordo com os pesquisadores, é provável que as florestas secas se expandiam durante períodos secos e se retraíam durante os períodos úmidos. Dessa forma, ao longo dos últimos dois milhões de anos, o afloramento estudado passou por diversas colonizações de espécies de florestas secas em diferentes momentos históricos.
Mesmo a poucos metros de distância entre si, os habitats dos afloramentos não só apresentaram diferenças em termos de diversidade e composição taxonômicas (isto é, considerando as identidades das espécies), mas também em termos das linhagens que habitam em cada um deles. “Isso quer dizer que espécies proximamente aparentadas (dentro das mesmas famílias ou mesmos gêneros botânicos) habitam áreas diferentes nessa curta variação espacial, indicando momentos de colonização e aptidões diferentes entre as espécies que compõem estas comunidades”, completa o professor. A fertilidade do solo também foi um moderador da variação da composição e das características funcionais (altura, diâmetro e densidade da madeira) dessas florestas.