Cerca de cem mil árvores, com mais de mil e cem espécies, foram avaliadas durante 30 anos

As belas paisagens compostas por florestas, cachoeiras e serras fazem com que o estado de Minas Gerais tenha um jeitinho único e “mineiro” de ser, e logo torna-se um destino procurado por muitos. Mas as suas riquezas naturais estão em perigo, pois as principais formações florestais estão perdendo a capacidade de remover carbono da atmosfera. Isso é o que aponta um estudo realizado por pesquisadores do Laboratório de Fitogeografia e Ecologia Evolutiva da Universidade Federal de Lavras (UFLA).

A pesquisa, publicada nesta sexta-feira (18/12) na revista científica Science Advances, concluiu que as florestas analisadas estão desaparecendo ou morrendo. Foram avaliadas cerca de cem mil árvores distribuídas pelo do Estado, durante 30 anos. São mais de 1.100 espécies diferentes, incluindo desde as florestas mais úmidas, no Sul de Minas, como Ibitipoca, e Bocaina de Minas, até florestas mais secas, no Norte de Minas, como Peruaçu e Monte Rei.

O ciclo do carbono realizado pelas florestas é fundamental para a manutenção do clima e para vários ciclos naturais do planeta, que influenciam diretamente e indiretamente no meio ambiente, na qualidade de vida humana e na economia

O primeiro autor do artigo, Vinícius Maia, estudante do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal da UFLA, explica que “em meados de 2013, a quantidade de carbono perdida pela decomposição das árvores mortas tornou-se maior que a quantidade de carbono removida pela fotossíntese das árvores vivas, ou seja, as florestas entraram em um balanço negativo de carbono. Devido à relação entre as funções ecossistêmicas exercidas pelas florestas e as atividade humanas, essa perda florestal poderá afetar a qualidade de vida humana e a economia nas próximas décadas, caso não seja revertida”. 

Os pesquisadores propõem que as formações florestais mais secas também sejam incluídas como prioritárias em estratégias de conservação, devido à sua maior vulnerabilidade. 

O estudo intitulado “The carbon sink of tropical seasonal forests in southeastern Brazil can be under threat” (“O sumidouro de carbono das florestas do sudeste brasileiro pode estar em perigo") conta com a parceria de pesquisadores da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg); Instituto Federal Goiano (IFG) e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul de Minas Gerais - Campus Muzambinho (IFSuldeMinas). Essa pesquisa, e outras que estão em andamento no laboratório, são resultados de mais de três décadas de dedicação dos pesquisadores que por lá passaram, sob a coordenação  do professor Rubens Manoel dos Santos, do setor de Ecologia e Conservação da Natureza do Departamento de Ciências Florestais  (DCF/UFLA).

O Laboratório de Fitogeografia e Ecologia Evolutiva, ao longo de toda a sua trajetória, teve como parceiros a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes); Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). 

Leia o artigo na íntegra.

Mais sobre o estudo

A pesquisa busca compreender o comportamento temporal das principais formações florestais de Minas Gerais, que são as florestas decíduas (secas e quentes), semidecíduas (clima intermediário) e sempre-verdes (úmidas e de clima mais ameno). Os pesquisadores avaliam essas florestas há mais de dez anos. Algumas delas começaram a ser mensuradas desde o final dos anos de 1980 e início dos anos de 1990, sendo possível fazer inferências em uma maior escala espacial e de tempo. 

O coordenador, professor Rubens Manoel, explica que o foco do laboratório é investigar o funcionamento dessas florestas ao longo do tempo. “Já são 30 anos que acompanhamos essas florestas e a cada cinco anos nós remedimos e monitoramos se as árvores estão morrendo, quais estão crescendo, quais as espécies que estão chegando. São mais de 40 hectares que medimos e acompanhamos”, comenta o professor. 

O trabalho aponta que as florestas secas e quentes, as de clima intermediário e as sempre-verdes estão diminuindo a produtividade líquida ao longo das últimas décadas, e que, por volta de 2013, a produtividade líquida entrou em um balanço negativo. Isso mostra que a quantidade de carbono perdida pela mortalidade de árvores tornou-se maior que a quantidade de carbono removida da atmosfera pela floresta viva. 

Eles observaram uma diminuição da remoção de carbono (2,6% por ano) e um aumento ainda maior na perda de carbono pela mortalidade (3,4% por ano). “As florestas mais úmidas e de clima ameno se mostraram mais estáveis que as quentes e secas, indicando que os ambientes secos e quentes, ao contrário do que prevê o senso comum, são, na verdade, mais vulneráveis. O clima se mostrou instável durante o período analisado, com tendências de aumento de seca e de temperatura, o que é a causa mais provável dessas mudanças”, destaca Vinícius. 

Os fatores e mecanismos que provocam essas mudanças serão o foco de futuras pesquisas do grupo. Os pesquisadores explicam que “esse resultado já pode ser considerado de grande relevância, já que as florestas semidecíduas, encontradas em nossa região, como nos municípios de Lavras, Carrancas e Luminárias, que ficam parcialmente sem folhas na época seca, e as decíduas, que são florestas secas do Norte de Minas, que têm como característica ficar quase totalmente sem folhas durante a época seca, são historicamente negligenciadas em políticas de gestão territorial e de conservação. Além disso, a pressão exercida pelas atividades humanas tem aumentado consideravelmente a sua vulnerabilidade”. 

A importância das florestas para o equilíbrio da natureza

O professor Rubens explica que o aumento de temperatura e a intensificação das secas nas últimas décadas prejudicam a remoção de carbono da atmosfera. Isso porque, mesmo com CO2 abundante na atmosfera, a escassez de água limita a capacidade das plantas de realizarem fotossíntese, que é o principal motor do sequestro de carbono por parte desses organismos. 

“Esses efeitos ocasionam danos fisiológicos que muitas vezes levam a árvore à morte, ou seja, o carbono estocado nessa árvore irá voltar para a atmosfera por meio da decomposição realizada pelos microrganismos”, completa. 

Os pesquisadores expõem que, ao considerar a produtividade líquida de uma floresta - a quantidade de carbono que ela remove da atmosfera descontando o carbono perdido pela mortalidade de árvores - faz-se um balanço do carbono associado ao seu ciclo. Se a quantidade de carbono perdida nas árvores que morreram em uma floresta em um dado intervalo de tempo for maior que a quantidade de carbono removida da atmosfera por meio do crescimento das árvores sobreviventes, ela estará realizando um balanço negativo. Isso implica diminuição da quantidade de carbono estocado, ou seja, mais moléculas de carbono são lançadas na atmosfera e há menos árvores para removê-las novamente. 

“O conhecimento em relação às formações florestais não-amazônicas vem crescendo nos últimos anos, no entanto, estudos como esse, que contemplam um grande intervalo de tempo e uma grande amplitude espacial de formações florestais não-amazônicas, são raros. Os dados são fruto de um trabalho árduo de diversos pesquisadores ao longo do tempo, no qual muitos recursos públicos foram investidos. Por isso, a importância do conhecimento gerado por estudos ecológicos de longa duração e os esforços necessários para que eles sejam possíveis deve ser ressaltada, divulgada e estimulada”, destaca Vinícius.

Sequestro de carbono 

As florestas tropicais, além de abrigarem uma grande diversidade de plantas e animais, desempenham uma função importante no funcionamento dos ecossistemas, por meio do ciclo do carbono, dos nutrientes e da água. Com a fotossíntese, as florestas removem uma grande quantidade de carbono da atmosfera anualmente.

Quando as árvores morrem e são decompostas, esse carbono volta para a atmosfera. Esse processo, porém, é um processo que ocorre de forma muito lenta. Assim, é essencial para os ciclos naturais do planeta que esse carbono fique retido nas florestas por um tempo maior (cerca de 50 anos). Mesmo que os seres humanos não existissem, esse processo continuaria ocorrendo, pois ele é essencial para os ciclos naturais do planeta. 

Os pesquisadores relatam que as atividades humanas têm sobrecarregado a atmosfera, por meio da adição de elevadas concentrações de dióxido de carbono (CO2), o que torna a remoção de carbono realizada pelas florestas ainda mais importante. 

Embora, determinada concentração de CO2 na atmosfera seja necessária para manter a temperatura do planeta dentro de um limiar adequado para a vida, o acréscimo que vem ocorrendo nos últimos séculos elevou a temperatura do planeta de maneira rápida, potencializando o chamado “efeito estufa”, que é a retenção do calor entre a parte mais baixa da atmosfera e a superfície da Terra, realizada de forma natural por gases como o CO2 o metano (CH4), por exemplo. 

Os aumentos de temperatura provocados pela potencialização do efeito estufa implicam diversas mudanças climáticas, gerando instabilidade e alterações no ciclo do carbono, no ciclo hidrológico e nos ciclos dos nutrientes. 

“As mudanças climáticas acarretadas pela crescente concentração de CO2, além de afetarem as próprias florestas, também afetam a produção agrícola e a provisão de alimentos, por provocarem eventos climáticos extremos, capazes de provocar a elevação das temperaturas, secas e chuvas intensas, dentre outros fenômenos, todos com grandes implicações sobre as formas de vida que habitam os meios naturais e sobre a qualidade de vida dos seres humanos”, destaca o professor Rubens. 

Minas jpgMInas2 jpg

Texto: Greicielle Santos - bolsista, Comunicação/UFLA

Edição do vídeo: Luma Faria de Moraes - Assistente de Estúdio, Comunicação/UFLA 

Ilustração: Pesqusiador Vinícius Maia

 

Diretrizes para publicação de notícias de pesquisa no Portal da UFLA e Portal da Ciência

Mais>>

A Comunicação da UFLA, por meio do projeto Núcleo de Divulgação Científica e da Coordenadoria de Divulgação Científica, assumiu o forte compromisso de compartilhar continuamente com a sociedade as pesquisas científicas produzidas na Instituição, bem como outros conteúdos de conhecimento que possam contribuir com a democratização do saber.

Sendo pequeno o número de profissionais na equipe de Comunicação da UFLA; sendo esse órgão envolvido também com todas as outras demandas de comunicação institucional, e considerando que as reportagens de pesquisa exigem um trabalho minucioso de apuração, redação e revisões, não é possível pautar todas as pesquisas em desenvolvimento na UFLA para que figurem no Portal da Ciência e no Portal UFLA. Sendo assim, a seleção de pautas seguirá critérios jornalísticos. Há também periodicidades definidas de publicação.

Todos os estudantes e professores interessados em popularizar o conhecimento e compartilhar suas pesquisas, podem apresentar sugestão e pauta à Comunicação pelo Suporte. As propostas serão analisadas com base nas seguintes premissas:

  • Deve haver tempo hábil para produção dos conteúdos: mínimo de 20 dias corridos antes da data pretendida de publicação. A possibilidade de publicações em prazo inferior a esse será avaliada pela Comunicação.

  • Algumas pautas (pesquisas) podem ser contempladas para publicação no Portal, produção de vídeo para o Youtube, produção de vídeo para Instagram e produção de spot para o quadro Rádio Ciência (veiculação na Rádio Universitária). Outras pautas, a critério das avaliações jornalísticas, poderão ter apenas parte desses produtos, ou somente reportagem no Portal. Outras podem, ainda, ser reservadas para publicação na revista de jornalismo científico Ciência em Prosa.

  • As matérias especiais de pesquisa e com conteúdos completos serão publicadas uma vez por semana.

  • É possível a publicação de notícias sobre pesquisa não só quando finalizadas. Em algumas situações, a pesquisa pode ser noticiada quando é iniciada e também durante seu desenvolvimento.

  • A ordem de publicação das diversas matérias em produção será definida pela Comunicação, considerando tempo decorrido da sugestão de pauta, vínculo do estudo com datas comemorativas e vínculo do estudo com acontecimentos factuais que exijam a publicação em determinado período.

  • O pesquisador que se dispõe a divulgar seus projetos também deve estar disponível para responder dúvidas do público que surgirem após a divulgação, assim como para atendimento à imprensa, caso haja interesse de veículos externos em repercutir a notícia.

  • Os textos são publicados, necessariamente, em linguagem jornalística e seguindo definições do Manual de Redação da Comunicação. O pesquisador deve conferir a exatidão das informações no texto final da matéria e dialogar com o jornalista caso haja necessidade de alterações, de forma a se preservar a linguagem e o formato essenciais ao entendimento do público não especializado.

Sugestões para aperfeiçoamentos neste Portal podem ser encaminhadas para comunicacao@ufla.br.



Plataforma de busca disponibilizada pela PRP para localizar grupos de pesquisa, pesquisadores, projetos e linhas de pesquisa da UFLA