Desde o início das medidas de restrição decorrentes da pandemia de Covid-19, estudos têm sido realizados levando em consideração situações atípicas desse momento de urgência e emergência, dentre eles, a relação da diminuição do tráfego de veículos e melhoria da poluição ambiental. O Núcleo de Poluição Urbana e Agroindustrial da Universidade Federal de Lavras (NepUai/UFLA) mensurou e avaliou estatisticamente tais alterações na esfera da poluição atmosférica na cidade de São Paulo.
O núcleo coordenado pelo professor Marcelo Vieira-Filho, da Escola de Engenharia (EE/UFLA), indicou como o impacto foi mais sensível nas concentrações emitidas de óxido de nitrogênio (NO) e dióxido de nitrogênio (NO2), sendo que tais poluentes, por estarem relacionados às emissões veiculares, fornecem informações acerca do grau de isolamento social de uma determinada localidade.
A partir do conjunto de dados dos poluentes atmosféricos da referida cidade, disponibilizados on-line pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), e com o auxílio de programação e manejo de dados no ambiente R, linguagem de programação para análises estatísticas, aplicaram-se métodos para avaliar as tendências e os pontos de mudanças na concentração de emissão. O pesquisador Vinicius Possato Rosse explica que a escolha por São Paulo deve-se ao fato de ter sido a primeira cidade do Brasil a reportar um caso de Covid-19, e, além disso, uma das primeiras a adotar medidas de restrição para conter a disseminação do vírus.
“Além do fator temporal e espacial, São Paulo conta com a malha mais densa de estações de monitoramento de qualidade do ar, sob responsabilidade da Cetesb, que divulga assiduamente os dados dos principais poluentes atmosféricos. Dessa forma, a cidade de São Paulo foi a opção mais razoável para a quantificação de tal impacto”, ressalta.
A pesquisa resultou no artigo intitulado “São Paulo’s atmospheric pollution reduction and its social isolation effect, Brazil” (com tradução: “Redução da poluição atmosférica de São Paulo e seu efeito de isolamento social, Brasil”) e apontou os seguintes resultados:
- No período de 14/1/2020 a 12/4/2020, os dados de emissão de todas as estações de qualidade do ar selecionadas para o estudo apresentaram tendências de queda nos valores de concentração de emissão de óxido de nitrogênio (NO) e dióxido de nitrogênio (NO2);
- as concentrações de emissão apresentaram pontos de intervenção - pontos cujo comportamento difere dos demais presentes na série de dados - em datas próximas às de início das medidas de restrição à circulação, o que corrobora com a premissa de que a diminuição do tráfego veicular diminuiu as concentrações de poluentes atmosféricos emitidos (NO e NO2);
- tendo como referência as concentrações de emissão do dia 15/3, as reduções percentuais observadas nos dias subsequentes (19/3 - 21/3) apresentaram valores de queda significativos, o que demonstra que, em um curto intervalo de tempo, o padrão de emissão foi alterado;
- a sensibilidade de determinados poluentes atmosféricos à presença de veículos pode ser uma característica utilizada no monitoramento do grau de isolamento social.
“Por meio dos resultados obtidos, pode-se verificar que os dados relacionados à poluição do ar são imprescindíveis à produção científica, uma vez que podem fundamentar estudos e permitir inferências acerca dos mais diversos temas, como aqueles relacionados à pandemia, por exemplo”, destaca Vinícius. Ele acrescenta que, diante disso, algumas medidas podem ser sugeridas. A primeira é o aumento da quantidade de estações de monitoramento da qualidade do ar nas localidades brasileiras, para que mais pesquisas possam ser elaboradas e mais dados sejam acessíveis à população; outra medida sugerida é a utilização de parâmetros ambientais, tais como os atmosféricos, como indicadores essenciais à tomada de decisões.
Um desdobramento dos resultados da pesquisa foi a possibilidade de identificar os padrões de comportamento dos paulistanos a partir dos dados dos poluentes atmosféricos. A partir do estudo desses padrões, seria possível inferir sobre a efetividade dos decretos de isolamento social a partir dos padrões dos poluentes atmosféricos primários.
Esta pesquisa deve-se à iniciativa voluntária, sem financiamento das redes de fomento à pesquisa, dos membros do Nep Uai. São autores do artigo: Vinicius Possato Rosse, Jaqueline Natiele Pereira, Arthur Boari, Gabriel Vinicius Costa, João Pedro Colombo Ribeiro e Marcelo Vieira-Filho.
Núcleo de Poluição Urbana e Agroindustrial
Os projetos do NepUai são desenvolvidos por estudantes de graduação do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária e do Programa de Mestrado de Engenharia Ambiental.
Com relação à continuidade de estudos com essa temática, atualmente, os membros do Nep Uai desenvolvem pesquisas relacionadas à qualidade do ar na Região Metropolitana de Belo Horizonte. No entanto, uma análise da tendência dos poluentes atmosféricos nessa região está impossibilitada devido à ausência de dados para os anos posteriores a 2019.
Acompanhe os projetos do Núcleo:
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