A atividade humana em áreas de Mata Atlântica pode aumentar em 15,24% a perda de carbono florestal na região, elevando as emissões do gás para a atmosfera e provocando mudanças no clima, com a elevação de temperatura. É o que aponta artigo publicado na revista Science Advances com o título: “Human impacts as the main driver of tropical forest carbon”, liderado por pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Por outro lado, destaca o estudo, se medidas de conservação e restauração de florestas forem desenvolvidas, o estoque de carbono florestal pode aumentar em 17,44%, reduzindo as emissões e os efeitos das mudanças climáticas.
“A queima de combustível fóssil e os desmatamentos são as atividades humanas que mais interferem na perda de carbono. Portanto, políticas de incentivo de troca da matriz energética mundial e políticas de conservação de florestas, melhora de manejo do solo e aumento da cobertura arbórea por restauração de áreas degradadas e reflorestamento são ações que podem ser tomadas a fim de evitar que essas perdas ocorram”, explica a doutoranda em Ecologia Aplicada pela UFLA e primeira autora do artigo, Marcela Venelli Pyles.
O estudo buscou entender os mecanismos que controlam o armazenamento de carbono florestal, para que soluções climáticas baseadas na natureza possam ser suportadas. Foi utilizado um conjunto de dados de 892 inventários da Mata Atlântica para avaliar os efeitos diretos e indiretos das condições ambientais, impactos humanos, propriedades das comunidades arbóreas e métodos de amostragem nos estoques de carbono das árvores acima do solo. Os dados foram compilados e organizados pelo Laboratório de Ecologia de Florestas Tropicais e serão utilizados em diversas outras pesquisas de conservação e manejo de florestas.
Entre os resultados obtidos, destaca-se que a conservação dos estoques de carbono da Mata Atlântica depende muito de evitar a degradação florestal, que pode gerar perdas de carbono pelo menos 30% maiores do que qualquer mudança climática futura. Além disso, iniciativas destinadas a mitigar as mudanças climáticas por meio da restauração de ecossistemas florestais podem se beneficiar da inclusão de espécies com maior déficit hídrico, massas de sementes mais pesadas e folhas maiores.
“A relação entre a biodiversidade e os estoques de carbono é fraca na Mata Atlântica, revelando que as políticas de conservação focadas apenas no carbono podem falhar na proteção da biodiversidade. Mecanismos de incentivos adicionais separados para alcançar a conservação da biodiversidade são necessários”, ressalta.
A pesquisadora ainda acrescenta que a queda do carbono na Mata Atlântica pode representar maior quantidade de carbono emitido pelo desmatamento e menor potencial de mitigação das mudanças climáticas por soluções baseadas na natureza.
A pesquisa foi realizada em parceria com o Instituto de Biociências da Universidade de São Paula (IB/USP) e teve incentivo da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).
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