Em combustíveis utilizados nos meios de transporte, nos itens plásticos que compramos, no asfalto: o petróleo é matéria-prima de muita coisa que está no nosso dia a dia. Mas você já parou para pensar no grande desafio de tratar o solo após uma contaminação por derivados de petróleo? Durante o processo de exploração e processamento do petróleo acontecem vazamentos e derrames que contaminam o solo e podem causar problemas ambientais, com consequências também para a saúde de seres humanos e animais. Um estudo científico desenvolvido na Universidade Federal de Lavras (UFLA) levou ao desenvolvimento de um produto inovador para mitigar esse problema.
A nova tecnologia desenvolvida na Universidade é ambientalmente sustentável, de baixo custo e inédita. Utiliza materiais orgânicos, como as substâncias derivadas de fungos, e tecnologias de ponta, como as nanopartículas, para a constituição de uma manta biodegradável e solúvel em água que, quando depositada sobre o solo contaminado, atua sobre os derivados de petróleo, a partir do potente arsenal metabólico extraído de fungos, enquanto a própria umidade do solo e do ar lentamente derrete a manta, liberando, gradativamente, as nanopartículas nela contidas, também capazes de neutralizar os efeitos nocivos da contaminação. A manta não contém microrganismos, logo não altera a biota do solo (variedade de organismos e microrganismos que vivem no solo), e a liberação lenta das nanopartículas permite que a contaminação seja atenuada de forma segura.
O estudo está em desenvolvimento desde 2020 e atualmente está em processo de pedido de patente. Os fungos utilizados são parte do acervo do Laboratório de Microbiologia Agrícola do Departamento de Biologia da Universidade e, associados às nanopartículas, originam a chamada Síntese Verde de Nanopartículas.
Atualmente, segundo a pesquisadora coordenadora do projeto, Tatiana Cardoso e Bufalo, existem no mercado diversas formas de remediar, ou seja, promover a atenuação da contaminação de solos por derivados de petróleo. Apesar de algumas dessas técnicas oferecerem soluções sustentáveis, ainda causam preocupação, já que têm efeitos que podem trazer outros prejuízos ao meio ambiente. Por exemplo, a técnica de biorremediação, pela qual são introduzidos diretamente no solo afetado microrganismos vivos capazes de degradar os poluentes, pode causar danos desconhecidos à biota do solo local.
Outra técnica empregada para remover poluentes de solos contaminados faz uso da tecnologia das nanopartículas, partículas muito pequenas e altamente reativas, que são inseridas no solo em grandes quantidades, o que pode favorecer sua infiltração dentro do solo e levar à contaminação de lençóis freáticos, com potencial de afetar a saúde da população.
A principal inovação da técnica desenvolvida na UFLA é utilizar materiais e metodologias que são ambientalmente amigáveis, o que é conhecido também como tecnologias eco-friendly, por apresentarem um baixo impacto ao meio ambiente. São produzidas a partir de bionanomateriais avançados, mais eficientes, seguros e de baixo custo. A atuação das substâncias extraídas dos fungos, aliada à liberação lenta das nanopartículas pela manta, torna a técnica segura e de fácil aplicação.
O desenvolvimento de tecnologias como essa manta é considerado essencial para a vida moderna, já que os derivados de petróleo são altamente poluentes para o meio ambiente e, ao entrarem em contato com solos, podem contaminar a água que é utilizada para uso humano e de animais, cuja exposição a longo prazo apresenta potencial cancerígeno e de danos ao sistema nervoso central.
Comunidade interna e externa envolvidas no estudo
O estudo está sob coordenação da pesquisadora Tatiana Cardoso e Bufalo, que realiza seu pós-doutorado no Departamento de Física (DFI/UFLA), e conta com apoio dos professores Eustáquio Souza Dias (DBI/UFLA), Robson André Armindo (DFI/UFLA) e Joaquim Paulo da Silva (DFI/UFLA), além de ser tema da dissertação de mestrado da pós-graduanda em Física Izabelly Christiny da Silva. A equipe, chamada de Inovafungi, conta também com professores e colaboradores dos departamentos de Física, Química, Biologia e Engenharias da UFLA.
Também há o apoio do Núcleo de Inovação Tecnológica (Nintec/UFLA), para aproximação com empresas e proteção intelectual das tecnologias desenvolvidas pela equipe Inovafungi. A Inovafungi também recebeu apoio institucional: passará a fazer parte da futura Agência de Soluções Inovadoras Gaia. Os próximos passos planejados pela equipe de pesquisadores envolvem o estabelecimento de novas parcerias para realizar a aplicação do produto em diferentes tipos de solos brasileiros contaminados por derivados do petróleo.
Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais - Fapemig.