Com o objetivo de estudar a alimentação de peixes de diferentes espécies de riachos amazônicos, que possuem importância para o ecossistema da região, uma equipe do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada da Universidade Federal de Lavras (UFLA) foi até a floresta amazônica coletar amostras de seis diferentes riachos. Os resultados, que serão obtidos após a finalização das análises, ajudarão a compreender quais são os principais recursos e tipos de alimentos que sustentam essas comunidades de peixes, o que pode ser fundamental para a implementação de estratégias de conservação adequadas.

Em cada riacho, a coleta dos peixes foi feita com peneiras e redes de arrasto. Além disso, todos os possíveis recursos alimentares disponíveis para esses animais (como algas, sedimentos, matérias em suspensão na água, invertebrados e a vegetação ripária que fica próxima a corpos d’água) também foram coletados e congelados. Todas as amostras foram transportadas para o Laboratório de Ecologia de Peixes da UFLA.

O mestrando responsável pelo estudo, Pedro Henrique dos Santos Basílio, revela que estudar a dieta dos animais é um dos passos iniciais para conhecer seus aspectos biológicos, o papel que ocupam no ecossistema e as interações ecológicas que desempenham com outras espécies. “É por meio desses estudos que determinamos se uma espécie é onívora, carnívora ou herbívora, o que permite compreender um pouco mais das relações que ela desempenha no ecossistema no qual está inserida. Afinal, dessa forma podemos identificar, por exemplo, se uma determinada espécie possui hábitos alimentares especializados, se alimentando apenas de um recurso alimentar específico, ou se possui hábitos generalistas, se alimentando de diversos recursos alimentares.”

Pedro também ressalta que, por ser a maior floresta tropical fluvial do mundo, a Amazônia é um bioma megadiverso e pouco se sabe sobre a biologia e a ecologia de seus diversos animais. “Além disso, o bioma vem sofrendo severamente com ações humanas como desmatamento e contaminação das águas, o que representa um risco para essa grande diversidade da qual, em muitos casos, sabe-se somente os nomes científicos das espécies. Portanto, o estudo da alimentação fornece informações sobre os impactos ambientais que o ecossistema vem sofrendo e nos dá uma visão mais ampliada de seu funcionamento.”

A previsão de conclusão da pesquisa é em janeiro de 2025.

A metodologia da análise

Em estudos de dieta de peixes, costuma-se utilizar a técnica de Análise de Conteúdo Estomacal, na qual o estômago do peixe é removido e, em laboratório, são identificados os itens alimentares encontrados. Porém, a técnica permite identificar apenas os itens alimentares que foram ingeridos momentos antes de o peixe ser coletado e pode não refletir os verdadeiros recursos que o sustentam.

Por isso, Pedro afirma que, para alcançar a caracterização da ecologia trófica (estudo das relações alimentares entre os organismos em um ecossistema) dos peixes de riachos amazônicos, ele optou por outra técnica: a de Isótopos Estáveis. “Para entendermos essa análise, é preciso compreender que todos os seres vivos são compostos por diversos elementos químicos, como carbono, nitrogênio, oxigênio, entre outros. Cada um desses elementos possui uma assinatura química característica e, quando nos alimentamos de outros seres vivos, a assinatura isotópica deles é incorporada à nossa. Assim, a técnica que iremos utilizar nos permitirá identificar a assinatura dos principais recursos assimilados pelos peixes”, explica.

Atualmente, no Laboratório da UFLA, as amostras estão sendo preparadas. Esse processo envolve a remoção de um pedaço do tecido muscular dos peixes que, juntamente com os recursos alimentares sólidos, estão sendo liofilizados (desidratados). Após essa etapa, o material é moído à mão ou através de um moinho até ser transformado em um pó fino. Em relação às amostras líquidas, elas estão sendo filtradas e, posteriormente, levadas à estufa por 48 horas, também transformando-se em um pó fino.

Quando todo esse processo for concluído, as amostras serão encaminhadas para o Departamento de Química (DQI/UFLA), onde será realizada a mensuração isotópica de carbono e nitrogênio, a qual é a mais utilizada. “A relação isotópica desses dois elementos pode fornecer informações sobre a origem, a dieta, os movimentos e as interações de organismos em ecossistemas. Diferentemente da Análise de Conteúdo Estomacal, a Análise Isotópica nos permite uma acurácia maior para a caracterização da dieta, trazendo informações de semanas e até meses de recursos consumidos”, diz Pedro.

Mais sobre o estudo e a equipe

Débora, Cecília, Paulo e Pedro
A equipe de pesquisa. Da esquerda para a direita: Débora, Cecília, Paulo e Pedro.

A pesquisa de Pedro é orientada pelo professor do Departamento de Ecologia e Conservação do Instituto de Ciências Naturais (Dec/ICN/UFLA) Paulo dos Santos Pompeu. Participam também, como coorientadoras, a pesquisadora associada e a professora da Universidade de Lancaster (Reino Unido)  Débora Reis de Carvalho e Cecília Gontijo Leal, respectivamente. Ambas são egressas da UFLA e também foram orientadas por Paulo. Débora, assim como Pedro e Paulo, também participou da expedição na floresta amazônica.

O estudo faz parte do projeto “Understanding and conserving tropical freshwater ecosystems”, coordenado por Cecília e financiado pela UK Research and Innovation (UKRI) juntamente com a Universidade de Lancaster. Fazem parte do projeto pesquisadores do Reino Unido pela Universidade de Lancaster e de diversas universidades brasileiras.

A bolsa de mestrado do Pedro é concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).

 

Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais - Fapemig.

Diretrizes para publicação de notícias de pesquisa no Portal da UFLA e Portal da Ciência

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A Comunicação da UFLA, por meio do projeto Núcleo de Divulgação Científica e da Coordenadoria de Divulgação Científica, assumiu o forte compromisso de compartilhar continuamente com a sociedade as pesquisas científicas produzidas na Instituição, bem como outros conteúdos de conhecimento que possam contribuir com a democratização do saber.

Sendo pequeno o número de profissionais na equipe de Comunicação da UFLA; sendo esse órgão envolvido também com todas as outras demandas de comunicação institucional, e considerando que as reportagens de pesquisa exigem um trabalho minucioso de apuração, redação e revisões, não é possível pautar todas as pesquisas em desenvolvimento na UFLA para que figurem no Portal da Ciência e no Portal UFLA. Sendo assim, a seleção de pautas seguirá critérios jornalísticos. Há também periodicidades definidas de publicação.

Todos os estudantes e professores interessados em popularizar o conhecimento e compartilhar suas pesquisas, podem apresentar sugestão e pauta à Comunicação pelo Suporte. As propostas serão analisadas com base nas seguintes premissas:

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  • Algumas pautas (pesquisas) podem ser contempladas para publicação no Portal, produção de vídeo para o Youtube, produção de vídeo para Instagram e produção de spot para o quadro Rádio Ciência (veiculação na Rádio Universitária). Outras pautas, a critério das avaliações jornalísticas, poderão ter apenas parte desses produtos, ou somente reportagem no Portal. Outras podem, ainda, ser reservadas para publicação na revista de jornalismo científico Ciência em Prosa.

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