As práticas e os arranjos que são utilizados na construção do mercado de cafés certificados e sustentáveis da Utz Certified no Brasil foram tema de tese defendida na Universidade Federal de Lavras (UFLA), referência em pesquisa sobre o sistema agroindustrial do café. O estudo foi realizado por Paulo Henrique Leme, no Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA), hoje professor do Departamento de Administração e Economia (DAE/UFLA).
“O estudo foi pioneiro ao utilizar o arcabouço teórico da Teoria Ator Rede (TAR) e dos Estudos de Mercado Construtivistas (EMC) para analisar como as práticas de mercado interagiram na construção de arranjos de mercado ao longo do processo de desenvolvimento do mercado da Utz Certified no Brasil. Essa interação de práticas-arranjos-translações em um processo de “marketização” forma o cerne teórico dos EMC”, explica Leme, que é atualmente professor do DAE/UFLA nas áreas de Empreendedorismo, Marketing e Agronegócio.
Por meio da reconstrução histórica da certificação e da análise dos contextos de mercado, e também a partir dos depoimentos dos atores locais responsáveis pela organização da Utz no Brasil, a pesquisa identificou as principais práticas de mercado adotadas pelos atores envolvidos na organização e o desenho deste mercado.
“O papel de práticas de construção de mercado como importantes instâncias mediadoras para a construção de arranjos de mercado e para a modificação e a consolidação de práticas de representação, normativas e de transação, destacou-se no estudo, sendo que as práticas de construção e de mercado mostraram como interagem em um processo temporal e longitudinal na ocorrência de translações, que provocam transbordamentos de mercado, com consequentes enquadramentos de mercado mediados por novas práticas de construção e de mercado em um processo contínuo. Esta seria a essência da estrutura analítica proposta”, ressaltou o autor.
Como resultado prático da tese, é possível que a estrutura analítica seja utilizada no estudo de outras certificações do café, como no caso do Fair Trade, da Rainforest Alliance, do Certifica Minas Café e até mesmo de sistemas de verificação, como o 4C.
Para o autor, “a comparação entre essas estruturas de mercado pode trazer contribuições relevantes tanto para a teoria dos EMC quanto para a prática dos atores nestes mercados. Ela pode ser utilizada na análise de outros mercados de produtos certificados, chamando a atenção para os processos e para os atores, e deixando os resultados, ou as análises de impacto, como consequência de um sistema coordenado. Sugere-se, então, sua aplicação também nas culturas do cacau e do chá, em que a Utz Certified também tem forte atuação e, mesmo, em outras cadeias que envolvam produtos que possuem valor agregado por atributos de qualidade, como no caso das frutas e flores.”
CERTIFICAÇÕES
As certificações sustentáveis são, hoje, uma realidade no agronegócio café global e o Brasil tem papel de destaque nesse contexto. O país participa neste mercado como maior produtor e exportador do grão. Em 2015, foram produzidas 43,24 milhões de sacas de 60 kg (CONAB, 2015) e o país também registrou volume recorde embarcado de 36,89 milhões sacas, 1,3% superior a 2014, com receita cambial de US$ 6,135 bilhões (CECAFÉ, 2016). No agronegócio, que representou 46% de participação nos embarques totais do Brasil em 2015, o café obteve um desempenho 2,9% superior de seu percentual de participação em comparação a 2014, passando de 6,8% para 7,0% (CECAFÉ, 2016).
Outro destaque fica para os dados compilados de exportação de cafés diferenciados, chegando à marca de 9,072 milhões de sacas no ano de 2015, segundo o Conselho dos Exportadores de Café (CECAFÉ). De acordo com o autor: “A cafeicultura brasileira, por sua dinâmica competitiva e tecnológica, é a única capaz de suprir o mercado global de cafés sustentáveis em um curto período de tempo. Por esta razão, o tema das certificações sustentáveis deve ser debatido com todos os atores do agronegócio café no Brasil.”
A pesquisa contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), da Agência de Inovação do Café (InovaCafé), Centro de Inteligência em Mercados (CIM/UFLA) e Grupo de Estudos em Marketing e Comportamento do Consumidor (GECOM).
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