O agronegócio café apresenta diversos agentes e mecanismos que permeiam sua cadeia produtiva. Um deles, surgido recentemente, é o Direct Trade (Comércio Direto), que pode ser entendido como um modelo de negociação entre cafeicultor e torrefador/cafeterias, voltado mais especificamente à comercialização de cafés especiais, reduzindo agentes intermediários no processo.
Procurando aprofundar o tema, o pesquisador do Centro de Inteligência em Mercados (CIM), vinculado à Agência de Inovação do Café (InovaCafé) da Universidade Federal de Lavras (UFLA), Nilmar Diogo Reis, desenvolveu o estudo “O Direct Trade no agronegócio café: uma perspectiva de seus agentes”, objeto de dissertação de mestrado defendida em fevereiro de 2018, no Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA/UFLA), sob orientação do professor Luiz Gonzaga de Castro Junior.
Segundo Reis, o modelo do Direct Trade tem demonstrado substancial tendência de expansão - no Brasil e no mundo - no comércio de cafés de qualidade superior. “No entanto, falta um norteamento quanto à definição de quais são as premissas para atuação no segmento, seja da parte do cafeicultor, das torrefadoras e/ou das cafeterias, e até mesmo do intermediador estratégico, no caso as exportadoras, o que dificulta a comercialização”, ressaltou. Assim, a proposta do trabalho foi analisar, por meio da teoria da Economia dos Custos de Transação (ECT), quais premissas levam à atuação via Direct Trade.
A pesquisa procurou analisar as características dos agentes, o modo que realizam suas transações, bem como o ambiente institucional em que ocorre a comercialização dos cafés especiais, propondo medidas que minimizem a ocorrência de custos transacionais elevados. “O Direct Trade permite uma estrutura de governança mais enxuta do que a cadeia do agronegócio café tradicional. Ele também reduz a possibilidade de ações oportunistas, já que a assimetria de informação tende a ser pequena, permitindo uma relação bilateral eficiente e ampliando a racionalidade dos agentes quanto às possibilidades de ganhos”, explicou.
Pesquisa
Além de pesquisas documentais e bibliográficas, o trabalho contou com entrevistas presenciais com produtores Direct Trade da mesorregião do Sul de Minas, além de torrefadoras e cafeterias da mesma região e da Costa Leste do Estados Unidos (Nova Iorque). A intenção foi detectar, in loco, os comportamentos dos agentes e as relações frente a esse novo modelo de negócio.
Como uma das constatações da pesquisa, foi possível observar que grande parte das aquisições feitas pelo Direct Trade não exige algum tipo de certificação (como FairTrade ou Rainforest Alliance), pois priorizam fatores como confiança, relação mútua entre os agentes, contatos a longo prazo, entre outros. Outra constatação está ligada ao desconhecimento de parte dos produtores em relação à qualidade e ao potencial de ganho de seus cafés. “Isso favorece ações oportunistas de agentes que complexificam as etapas de comercialização, diminuindo a lucratividade dos produtores”, pontuou.
A pesquisa identificou, ainda, que mesmo sem a formalização por meio de contratos entre cafeicultores e torrefadoras e/ou cafeterias, foi possível obter altos valores pagos à saca de cafés especiais, o que têm robustecido a expansão da produção e venda via Direct Trade tanto no mercado interno como no exterior.
Ascom Inovacafé