Em um projeto multidisciplinar, pesquisadores dos departamentos de Engenharia (DEG), de Ciências da Computação (DCC) e Ciências da Saúde (DSA) da Universidade Federal de Lavras (UFLA) desenvolveram um estetoscópio digital que promete facilitar a vida de médicos e enfermeiros. O equipamento grava áudio da ausculta dos sons pulmonares e envia informações para o celular.
A ideia do aparelho surgiu do professor do Departamento de Engenharia (DEG) e coordenador do grupo de pesquisa Inteligência Artificial e Automação, Bruno Henrique Groenner Barbosa, que, em 2013, estava acostumado a acompanhar o filho no hospital para médicos realizarem a ausculta pulmonar do recém-nascido.
“Com o estetoscópio tradicional, médicos e enfermeiros precisam ter o ouvido treinado na identificação dos ruídos respiratórios. A intenção do projeto foi criar um aparelho digital que facilite exames em clínicas e hospitais, principalmente de áreas remotas, e por profissionais inexperientes”, explica.
O professor informa que o diferencial do aparelho está no uso da inteligência artificial, que permite detectar os sons pulmonares relacionados a, pelo menos, seis tipos de doenças respiratórias, como asma, bronquite, pneumonia, síndrome da apneia obstrutiva do sono, fibrose pulmonar e edema pulmonar. “O som extraído do paciente fica gravado para ajudar na confirmação do diagnóstico”, destaca.
O estetoscópio digital foi construído a partir da adaptação do diafragma do equipamento analógico acoplado a um microfone, além de um circuito eletrônico para cruzamento dos sons pulmonares. No corpo do equipamento, feito por meio de uma impressora 3D, amplificadores de eletrônica identificam as ondas sonoras. O aparelho funciona assim: o som pulmonar capturado pelo profissional de saúde é filtrado pelo estetoscópio digital. O sistema de inteligência artificial embarcado no aparelho consegue detectar anomalias e traçar perfil dos sons que estão relacionados com diversas doenças respiratórias.
Vantagens
O funcionamento do estetoscópio digital desenvolvido na UFLA permitirá maior agilidade e precisão no diagnóstico médico e triagem de pacientes com doenças pulmonares.
A capacidade de armazenamento de informações sonoras também possibilita estabelecer comparações entre prognósticos do paciente em diferentes momentos. Por isso, a ferramenta pode ser importante no acompanhamento dos doentes. "O médico pode gravar e registrar o exame, com o estetoscópio eletrônico, no prontuário do paciente. Depois da consulta, ele pode rever o histórico da ausculta em um caso de visita sucessiva ou paciente crônico", informa o cardiologista e professor do DSA Ernesto Lippi Neto, um dos responsáveis pela aplicação prática do equipamento.
Testes
Graças a uma banco de dados com vários sons pulmonares, adquirido pela Universidade, foi criado o sistema de inteligência computacional do aparelho. Por meio dele, os pesquisadores conseguiram diferenciar os sons patológicos daqueles não patológicos.
Os primeiros testes foram realizados com estudantes saudáveis da UFLA. "Os sons foram coletados e analisados, o que comprovou o funcionamento perfeito do aparelho", conta o estudante do curso de Medicina, Guilherme Lopes Dias.
Na próxima etapa do projeto, pesquisadores da área da Saúde usarão o aparelho em pacientes em hospitais e clínicas hospitalares de Lavras. "A intenção agora é auscultar pacientes com alterações anormais, com o objetivo de distinguir quais ruídos serão agrupados em determinada doença. Por exemplo, um chiado, pela fase e forma com que aparece no gráfico pode indicar uma doença ou outra", explica o professor do DSA Ernesto Lippi Neto.
Reportagem: Pollyanna Dias, jornalista- bolsista Dcom/Fapemig
Edição dos Vídeos: Luís Felipe Souza Santos - bolsista Dcom/UFLA