Uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Lavras (UFLA) analisa o filme Estrelas além do Tempo (2017), dirigido por Theodore Melfi. O filme conta a história de três mulheres negras Dorothy Vaughan, Mary Jackson, e Katherine Johnson, que desenvolveram trabalho relacionados aos cálculos matemáticos na Nasa. A história se passa durante a Guerra Fria na década de 60, quando Estados Unidos e União Soviética (Rússia) disputavam uma corrida espacial: “Quem chegaria primeiro ao espaço?”

Por trás dos bastidores, muita coisa aconteceu. Pesquisadoras do Departamento de Estudos da Linguagem da Universidade Federal de Lavras (DEL/UFLA) retratam o silenciamento que essas três cientistas sofreram, mesmo contribuindo de modo significativo nas pesquisas espaciais que permitiram a ida do primeiro americano, Alan Shepard, ao espaço. Para analisar o filme, elas seguiram uma das linhas de pesquisa do curso de Letras nomeada de Análise do Discurso (teoria nascida na França). Para realizarem a pesquisa, selecionaram onze conjuntos de cenas, visando verificar o modo como essas mulheres se construíam discursivamente e como elas eram construídas pelo outro. 

“Torna-se necessário destacar que a inserção da mulher no meio científico ainda é bastante tímida comparada a toda a história científica da humanidade. Nas últimas décadas, elas têm lutado mais para conquistar o seu espaço social como pesquisadora, reivindicando direitos iguais em todos os âmbitos sociais. Na ciência, elas já estão ocupando diferentes áreas que eram ocupadas quase que exclusivamente pelos homens”, explica a professora Márcia Fonseca Amorim (DEL).

A Nasa vivia uma situação de segregação, onde mulheres negras eram contratadas por causa da reivindicação de sindicatos dos trabalhadores negros. O local de trabalho era dividido em lado oeste (mulheres negras) e lado leste (mulheres brancas). Ao verificar como o sujeito se constitui nesse espaço, é preciso destacar a desigualdade de oportunidade entre negros e brancos, homens e mulheres.marcia

Assim, ao analisar discursivamente o filme Estrelas Além do Tempo, as pesquisadoras estabelecem um contraponto entre o olhar da mulher negra sobre si mesma e o olhar da sociedade local sobre ela, principalmente no que se refere às contribuições feitas às pesquisas espaciais. “Identificou-se que as mulheres negras não eram bem-vindas neste espaço, pois o ethos discursivo (imagem que elas construíam de si mesmas), apresentado por elas, não era validado pelo público (mulheres e homens brancos), somente as enxergavam a partir da cor da pele delas”, explica a estudante Miriã Alexandre de Paula (DEL). 

O resultado da pesquisa aponta que, para o lançamento do homem no espaço, foi preciso haver renúncia dos homens e mulheres brancos com relação às mulheres negras. Isto desencadeou uma luta dividida em: gênero (luta contra uma sociedade patriarcal), e racial (derrubar o discurso apelativo em torno da cor de sua pele). Essa luta foi necessária para que essas mulheres pudessem legitimar o discurso defendido por elas, ou seja, para que pudessem demonstrar os seus saberes matemáticos, não apenas calcular e assinar os nomes dos engenheiros e depois serem impedidas de ter acesso a informações das pesquisas e até mesmo de participar em reuniões e sustentar as suas falas.

Silenciamento

Por serem mulheres, elas eram colocadas em um patamar de inferioridade em relação aos homens que trabalhavam e tinham a mesma formação. Porém, um fator as colocava em uma situação mais subalterna, a cor de sua pele – ser mulher e negra fazia com que elas fossem silenciadas pelos outros (mulheres e homens brancos) com os quais elas dividiam espaço. A história desse filme poderia ser apenas uma ficção, mas a história de Dorothy, Mary e Katherine é baseada em uma história real e retratada no livro “Estrelas além do tempo”, escrito por Margot Lee Shetterly.

A pesquisadora explica que a escolha em analisar esse filme foi devido ao fato de as protagonistas serem três mulheres negras e cientistas (matemáticas) – a questão racial e científica chamou muito a sua atenção.  E, também, por ela cursar uma graduação com dupla habilitação (Português e Inglês), fez com que unisse as duas temáticas, trazendo um acontecimento internacional para o seu trabalho. “As questões trazidas no interior do filme são reais, porque a mulher negra, na ciência, ainda é apagada e silenciada. O modo como ela é tratada deixa explícito que a ciência é o seu "não lugar", destaca a estudante.

A estudante questiona que, se a ciência é o “não lugar” da mulher negra, então qual é o lugar que ela deveria ocupar? É preciso (re)pensar a ausência da mulher em determinados espaços, e mais ainda da mulher negra que historicamente é apagada e silenciada em várias esferas sociais, pois a partir do momento que essas mulheres são apagadas e silenciadas, ou seja, a história dos seus grandes feitos deixa de ser registrada, elas deixam de existir.

Reportagem: Greicielle dos Santos - bolsista Dcom/Fapemig

Edição do vídeo: Sérgio Augusto - Editor/Dcom

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