Pesquisa de mestrado entrevistou fãs de diversas cidades brasileiras e apontou que GoT tem influenciado até mesmo as relações pessoais
Dragões, corvo de três olhos, gigantes, caminhantes brancos e outros seres ficcionais. Junte a essa mistura personagens marcantes de diferentes regiões que disputam o poder e o trono de ferro do reino de Westeros em uma era medieval. Esta é Game of Thrones (GoT), a série que iniciou em 2011, tem milhões de espectadores no mundo todo e está em sua última e mais aguardada temporada. Para conhecer o público que acompanha a série, a pesquisa de mestrado de Fernanda de Aguiar Zanola, orientada pelo professor Daniel Carvalho de Rezende, do Departamento de Administração e Economia da UFLA, teve o intuito de identificar quais os principais traços de identidade de seus consumidores, comparando as características de GoT com o sujeito fã.
“A série transmite muitas características que fazem parte das relações humanas e podem ser observadas nos dias atuais. Também chama a atenção os jogos de poder, a personalidade dos personagens, os efeitos especiais, a música tema e a imprevisibilidade”, comenta Fernanda.
Para o estudo qualitativo descritivo, Fernanda entrevistou 34 fãs da série, de 20 a 37 anos, de Lavras e de outros estados, como São Paulo, Goiás, Distrito Federal e Paraná. “As séries fornecem visibilidade às representações através do entretenimento, e esse consumo cultural reflete ideologias, experiências, valores pessoais e de identidade dos fãs. ”
Relação dos entrevistados com a série
Entre as categorias analisadas na pesquisa estão a identidade da série, como por exemplo, a preferência dos personagens que se destacaram. Conforme o levantamento, a dinastia Stark foi a mais citada por conta de seus valores morais, de conduta e ética. A personagem Arya Stark foi descrita como a favorita pela maioria, sendo apontada como exemplo de força, determinação e crescimento pessoal. Jon Snow, Daenerys Targaryen e Tyrion Lannister seguem a lista dos mais citados. Além disso, para os fãs, GoT funciona como um meio de interação que facilita a socialização. “Alguns se disseram tímidos e a série serviu para fazer novas amizades”, explica a pesquisadora.
Para Fernanda, Game of Thrones é um meio capaz de gerar identificação tanto com os personagens quanto com o enredo e os valores representados. “Pelas entrevistas, eu descobri que muitos traços identitários dos sujeitos têm relação com os valores que a série traz, como honra, lealdade, valor da união familiar e também o empoderamento feminino. Eles que influenciaram o comportamento de consumo dos entrevistados.”
O estudo ainda apontou que GoT funcionou como uma porta de entrada para hábitos de leitura dos fãs e para despertar o interesse por outras séries. Já a influência, para os que se tornaram fãs, começarem a assistir a série é atribuída à indicação de amigos, mídias sociais, propagandas e ao interesse provocado após a leitura dos livros que inspiraram a série.
No que se refere à identidade pessoal, o estudo mostra qual é a imagem que os fãs têm de si e sobre outras pessoas que não são gostam da série. “Observamos o mecanismo de afiliação, de entretenimento e também de extensão do self, ou seja, a ligação é tão forte com a série que os entrevistados não se sentem os mesmos de antes de assisti-la”. De acordo com a mestranda, os fãs também refletem a série no jeito de se vestir, por meio de camisetas, bottons, etc. Sobre quem não curte o seriado, os fãs atribuem a causa à complexidade, duração e cenas violentas e impróprias para menores.
A pesquisa identificou também a relação com o fandom, que é determinado grupo de pessoas que são fãs de um objeto em comum. Esses grupos são reforçados por aplicativos como o Facebook e WhatsApp. “O fandom oferece benefícios sociais, prestígio social, senso de identidade, autoimagem, fortalecimento da identidade grupal, e reforça o estilo de vida, expressa valores pessoais e da sociedade no qual aquela pessoa está inserida.” Para a pesquisadora, o consumo de GoT é um exemplo de cultura popular, pois os fãs se envolvem, interagem, acompanham e aplicam aspectos positivos em suas rotinas, alterando, assim, seus projetos de identidade.
Reportagem: Karina Mascarenhas, jornalista - bolsista Dcom/Fapemig
Edição do vídeo: Luiz Felipe Souza - Editor/Dcom