Pesquisas desenvolvidas na Universidade Federal de Lavras (UFLA) atestam a viabilidade de uma metodologia inédita que permite a análise do estado nutricional das plantas de forma direta e amigável ao ambiente, sem a necessidade de processos complexos como preparação de amostras e uso de químicos. O método utiliza o equipamento pXRF, baseado na técnica de fluorescência de raios x, para coletar dados que identificam a saúde das lavouras.
Pesquisadores da UFLA aplicaram o pXRF para examinar folhas frescas de oito culturas, como café, feijão, soja, milho e eucalipto. O método se mostrou rápido e preciso, oferecendo percepções valiosas para uma agricultura mais inteligente e sustentável. O professor Bruno Teixeira Ribeiro, que conduz o projeto no Departamento de Ciência do Solo/Escola de Ciências Agrárias de Lavras (DCS/Esal), explica que o pXRF permite análises sem poluentes e leva o laboratório até o campo, realizando a análise foliar diretamente no local de cultivo, obtendo-se as concentrações dos nutrientes sem a necessidade de enviar amostras para o laboratório.
“As medições com o pXRF são rápidas, realizadas em menos de um minuto - uma grande vantagem comparada aos métodos tradicionais realizados em laboratório, que podem levar semanas. Além disso, estamos trabalhando para desenvolver calibrações que se ajustem especificamente a cada tipo de cultura, o que tem gerado resultados muito precisos," explica Bruno. Durante o estudo, os pesquisadores compararam os resultados das análises feitas pelo aparelho com aqueles apresentados pelas análises convencionais. Modelos gerados por técnicas estatísticas comprovam a precisão do trabalho realizado com o equipamento de fluorescência de raios x portátil.
Um desafio intrigante é a variação na espessura e no teor de água das folhas, que também está sendo estudado. O professor ressalta que a equipe está afinando técnicas para que mesmo essas variações sejam consideradas, garantindo precisão comparável aos métodos convencionais, que envolvem análises feitas em laboratório, geralmente em periodicidade anual ou variando a depender do aspecto visual saudável das plantas em um solo de qualidade e das condições de acesso do produtor.
O uso da tecnologia pXRF representa um avanço para a sustentabilidade agrícola, eliminando a necessidade de reagentes químicos e evitando resíduos poluentes em laboratórios, além de permitir análises instantâneas no campo. Agora, a equipe quer desenvolver mais calibrações que permitam ampliar a utilização da tecnologia diretamente no campo em folhas intactas e frescas. Os projetos estão sendo desenvolvidos em parceria com laboratórios e empresas do setor agrícola, visando adaptar a tecnologia para diferentes culturas.
A UFLA também está empenhada em preparar futuros agrônomos para utilizar e compreender essas novas tecnologias. As pesquisas envolvendo pXRF são compartilhadas em redes sociais, usando uma linguagem clara e acessível, em palestras, minicursos e nos cursos de graduação e pós-graduação. Além disso, a UFLA desenvolve ações de capacitação em nível mundial. É o caso dos projetos de extensão da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) em parceria com a UFLA, que têm como um dos objetivos realizar a capacitação de pessoal ligado à agricultura em países africanos, como Costa do Marfim e Mali, sobre o uso da técnica pXRF para fins agrícolas.
Liderada pelo professor Bruno, a equipe de pesquisa integra as atividades do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo (PPGCS) e conta com a participação da doutoranda Marcela Vieira da Costa e do mestrando Jernimo Juvencio Chivale, esse último natural de Moçambique, atuando na UFLA por meio dos programas de Internacionalização. Os trabalhos contam com a participação de vários outros estudantes e professores do DCS/UFLA sendo financiados por várias agências de fomento, dentre essas destaca-se o INCT-Soil and Food Security coordenado pelo Prof. Luiz Roberto Guimarães Guilherme. O artigo Towards direct and eco-friendly analysis of plants using portable X-ray fluorescence spectrometry: A methodological approach, publicado em outubro de 2023 na revista Chemosphere, consolida parte dos resultados das pesquisas científicas relacionadas ao tema. Além da análise de folhas, os pesquisadores também têm usado a metodologia com sucesso para análises de solos.
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