Por Gabriella Melo Oliveira

Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ecologia Aplicada da UFLA

O pensador grego Heródoto, uma vez, escreveu que era necessário “pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro”. Podemos trazer essa reflexão para os estudos filogenéticos, que buscam compreender as relações evolutivas de parentesco entre grupos de organismos e o grau de parentesco entre eles. O conhecimento sobre a filogenia desses organismos nos permite fazer previsões sobre o funcionamento dos organismos e suas relações, com base em características conhecidas das espécies ancestrais.

Aplicar conceitos filogenéticos dentro da ecologia nos permite ter insights sobre a história evolutiva e a diversidade genética de determinada região, aspectos esses atrelados a serviços ecossistêmicos e ao potencial evolutivo da biodiversidade. Todos esses são atributos que devemos levar em conta quando falamos sobre conservação.

Motivada por compreender como as comunidades atuais estão organizadas, busquei entender a influência dos padrões filogenéticos de diversidade e estrutura filogenética das plantas e de seus polinizadores. Os dados sobre as interações foram coletados em uma área de Cerrado stricto sensu, na Reserva Biológica Unilavras Boqueirão, localizada no sul do estado de Minas Gerais.

Em linhas gerais, observei uma relação positiva para a estrutura filogenética, em que o aumento da sobredispersão filogenética das plantas aumenta a sobredispersão entre os polinizadores. Essa sobredispersão quer dizer que as espécies co-ocorrentes são mais distintas do que o esperado ao acaso. O mesmo acontece para a diversidade filogenética: uma maior diversidade filogenética das plantas também leva a maior diversidade dos polinizadores.

As plantas e seus polinizadores possuem uma longa relação coevolutiva. Por exemplo, as angiospermas são consideradas o grupo mais diverso de plantas terrestres, que produzem flores e frutos; elas incluem plantas do nosso dia a dia, como árvores, arbustos, flores e plantas agrícolas. A rápida diversificação desse grupo e certas características florais que observamos hoje são atribuídas, em parte, a essa relação coevolutiva com seus polinizadores. A diversificação das abelhas também pode ter ocorrido com a irradiação das angiospermas. Esse aumento da diversidade e estrutura dos polinizadores em reposta às mesmas métricas das plantas pode estar relacionado com o potencial das plantas de prover maior oferta de recursos para uma maior diversidade filogenética de polinizadores.

Essa relação evolutiva entre as angiospermas e seus polinizadores é extremamente valiosa, tanto para a própria biodiversidade quanto para o bem-estar humano. Essa coevolução é um dos principais impulsionadores da diversidade de plantas e animais nos sistemas terrestres, contribuindo para a saúde, a preservação e a estabilidade dos ecossistemas. Também é de extrema importância para a produção de alimentos, segurança alimentar e para a economia, uma vez que boa parte das plantas cultivadas na agricultura dependem de insetos para a polinização, contribuindo para aumentar a produtividade, a qualidade e a produção de alimentos. Por fim, também contribui para a beleza e diversidade das paisagens naturais, tornando-as mais atrativas para atividades de lazer e melhorando a qualidade de vida da população que vive perto dessas áreas.

Compreender essas relações nos traz evidências sobre as relações do passado e como elas moldaram e estruturaram as interações que estudamos hoje, permitindo-nos ter um vislumbre do que pode ocorrer no futuro. Apesar da importância e dos serviços ecossistêmicos prestados pelas interações entre plantas e polinizadores, a ecologia filogenética dessas interações ainda é pouco explorada na nossa região. O uso de ferramentas filogenéticas nos estudos ecológicos nos permite compreendermos o presente e idealizar um futuro para a conservação das relações entre as espécies.



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