Daniella Gualberto Neves
Psicóloga e mestre em Educação pela UFLA
O uso de tecnologias tem trazido avanços no cenário educacional, mas também desafios e dificuldades, uma vez que muitas escolas enfrentam obstáculos para integrar de modo efetivo recursos digitais nas salas de aula. Essa realidade ficou especialmente evidente no período da pandemia da Covid-19, com a implantação do ensino remoto que, além de ter afetado significativamente as práticas pedagógicas, trouxe sérios agravos à saúde mental de muitos professores, pois muitos desses profissionais não estavam capacitados para utilizar essas ferramentas de forma estratégica.
Com a orientação do professor Regilson Maciel Borges, do Departamento de Gestão Educacional, Teorias e Práticas de Ensino (DPE/UFLA), realizei, durante o Mestrado em Educação (PPGE), uma pesquisa com interface entre educação e saúde que teve como objetivo compreender quais foram os desafios de avaliar a aprendizagem vivenciados pelos professores dos anos iniciais do ensino fundamental durante o período pandêmico, em uma escola municipal localizada no sul de Minas Gerais, além de investigar as implicações das atividades remotas na saúde mental desses profissionais. Realizamos um estudo qualitativo, e os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram o questionário, com o objetivo de traçar o perfil das participantes, e a entrevista semiestruturada, que teve seus materiais submetidos à técnica da Análise de Conteúdo (AC).
No período do ensino remoto, a educação brasileira sofreu transformações repentinas, a começar pela suspensão das aulas presenciais. Com isso, estratégias precisaram ser desenvolvidas para que o ensino continuasse sendo garantido, e o uso das tecnologias foi uma alternativa para manter as atividades educativas dentro daquelas circunstâncias emergenciais.
Nesse cenário, a avaliação, que é uma ferramenta indispensável no processo de ensino e aprendizagem, precisou adotar novas configurações para ocorrer remotamente. Contudo, a falta de qualificação de professores para o ensino digital, por meio do formato on-line, transformou a avaliação em uma prática desafiadora. As professoras participantes da pesquisa mencionaram que, em função do distanciamento social imposto pela pandemia, ocorreram problemas como a falta do retorno das atividades, a incerteza de quem resolvia as questões avaliativas e a ausência de contato físico com as crianças e familiares. Essas situações foram prejudiciais para os processos de avaliação.
No que se refere à saúde mental das professoras frente às atividades remotas, aspecto que também foi investigado, os dados apontaram que a sobrecarga e a precarização do trabalho foram fatores que desencadearam sofrimento e/ou adoecimento psíquico em todas as profissionais, por conta das instabilidades geradas pelo contexto de emergência em saúde pública, que impôs multitarefas a serem desempenhadas no que se refere à docência. As queixas mencionadas pelas participantes foram alterações do sono, síndrome do pânico, esgotamento e cansaço mental, ansiedade, irritabilidade, sintomas psicossomáticos, angústia e esquecimento, além do estresse de terem que aprender a usar a tecnologia aplicada ao ensino sem nenhum suporte. Vale mencionar que a saúde mental de professores não é um assunto contemporâneo, uma vez que essa é uma das classes que mais manifesta problemas de ordem psíquica decorrentes do trabalho.
Apesar dos obstáculos, as falas das participantes revelaram que o uso de tecnologias abriu portas para novas possibilidades na educação no momento pós-pandemia. De acordo com as professoras, foi possível incluir algumas ferramentas nas aulas presenciais, conforme a estrutura da escola e a realidade dos alunos. Logo, os recursos tecnológicos foram grandes aliados durante o período remoto e ainda continuam se fazendo presentes nos contextos educativos.
Contudo, a pesquisa nos mostrou que, mais do que nunca, atualmente é necessário investir na formação docente para que os professores possam usar esses instrumentos com intencionalidade, trazendo sentido para a prática pedagógica e alinhando-os com os objetivos de aprendizagens. Capacitar professores para o uso de tecnologias aplicadas ao ensino, além de torná-los mais seguros e qualificados, possibilita que eles proporcionem uma educação mais dinâmica e inovadora.
No que se refere à saúde mental docente, o estudo mostrou que esse é um aspecto que merece muita atenção, principalmente agora, após a pandemia, pois as instabilidades e mudanças radicais que ocorreram nas rotinas comprometeram a saúde psíquica de professores. Portanto, é fundamental que as instituições de ensino desenvolvam ações a fim de minimizar os impactos causados pelas atividades remotas, bem como estratégias de prevenção e promoção da saúde mental que possam contemplar não só docentes, como também todos os profissionais que ocupam os ambientes escolares.
Em suma, o estudo descreveu como foi o processo de avaliação da aprendizagem durante o ensino remoto e os impactos desse período na saúde mental de professores. Apesar de ter sido uma pesquisa realizada dentro de uma situação específica de emergência em saúde pública, causada pelo coronavírus, os resultados oferecem subsídios para o desenvolvimento de outros trabalhos nesse viés, e contribuem para reflexões críticas importantes que possam gerar, nos dias atuais, novas políticas e, consequentemente, transformações significativas no campo da educação.
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