Por Karen Luz Burgoa Rosso
Professora do Departamento de Física (DFI/UFLA)
Há muito tempo, os humanos começaram um caminho em direção ao entendimento da verdadeira natureza do universo e da própria natureza em si. Pela astronomia dos povos antigos, como, por exemplo, os boorogons da Austrália, os maias do México e os caiapós do Brasil, percebemos que tudo começou com a incrível capacidade do ser humano de ligar, de maneira contínua, a relação entre as estrelas do céu e os seres vivos na Terra. E hoje sabemos que os átomos que se formaram nas estrelas são a origem de tudo que existe aqui na Terra, e que alguns processos, a níveis atômicos, ocorrem nas estrelas e ocorrem também nas folhas das árvores, quando iluminadas pelo sol. A observação da natureza, e do céu, foi e sempre será fonte de reflexões e descobertas pelo homem. Por isso, este artigo busca estimular o resgate desse hábito de observação.
Nas oficinas Festa das Estrelas, evento aberto à população realizado desde 2011, a UFLA compartilha os saberes da astronomia com pessoas de todas as idades. Os encontros ocorrem aos sábados, às 19h, no Museu de História Natural da Universidade. A iniciativa envolve também as feiras de ciência das escolas e praças de Lavras e região.
Durante todos esses anos, observamos que o público sempre varia em número - às vezes centenas de pessoas e, às vezes, poucos participantes, mas sua composição sempre foi de grupos de amigos ou familiares, mães, pais, filhos, tios, avós, etc. Chegam muito ansiosos e curiosos para entender a origem e o movimento das estrelas no céu, saber quais os verdadeiros avanços no conhecimento sobre a vida fora da Terra e entender qual a conexão dos astros com os todos os seres vivos da Terra. Os temas que abordamos em diferentes ciclos de palestras e com diversos ângulos do conhecimento buscam ajudar a solucionar essas inquietações: falamos sobre a história da astronomia, astrofísica dos corpos celestes, física da estrutura da matéria, astronomia cultural dos diferentes povos indígenas, cosmologia, astrobiologia e outros. O público tem a oportunidade de fazer um passeio turístico pelo céu, tendo como guias os professores. Após uma observação a olho nu e com telescópios, as pessoas ficam tão contentes que parece que o brilho das estrelas, que literalmente entrou em seus olhos, se amplifica ao ponto de gerar um sorriso no rosto. Esse momento representa a essência da importância da evolução científica e tecnológica para a qual todos os dias e noites trabalhamos incansavelmente nesta Universidade.
Guia Turístico do Céu de Lavras
Observando os astros na praça Dr. Jorge
Professor Jose Nogales e professora Karen Luz Burgoa Rosso
A partir de toda a curiosidade e do interesse que percebemos nos participantes das oficinas Festa das Estrelas, preparamos, para esta edição, um roteiro de observações do céu que pode levar o leitor a uma interação maior com os astros, com o conhecimento científico e com as peculiaridades de Lavras (MG). Basta olhar para o céu nos horários e no local indicados para identificar os corpos celestes que lá estarão.
O céu da cidade, com a sua geografia e arquitetura, oferece cenários espetaculares para a observação dos astros. No período que vai de fevereiro a maio de 2019, teremos conjunções de estrelas, planetas e fases da lua muito bonitas de ver a olho nu. Nosso primeiro ponto turístico será o pedacinho de céu que cobre a praça Dr. Jorge e a escola municipal Álvaro Botelho. Com ajuda da lua, nesse período, teremos destaque da constelação do Homem Velho, que é formada por estrelas muito brilhantes e famosas, que são: as 3 Marias, Rigel, Betelgeuse, Saiph, Aldebaran e Bellatrix - a famosa bruxa no filme Harry Potter. Também faz parte dessa constelação o aglomerado das plêiades, que é um grupo de estrelas jovens e azuis que formam o cocar do homem velho.
Constelação do Homem Velho - A figura do homem velho, ou pajé, é muito importante dentro das comunidades indígenas do Brasil, pois ele é quem ajuda a passar adiante a cultura, história e tradições dos povos. Na prática, a constelação do homem velho marca o início do verão e o começo das chuvas na cultura tupi-guarani.
A Praça Dr. Jorge, na região central de Lavras, é um lugar privilegiado para observar fenômenos astronômicos. Lá, a constelação do Homem Velho, que marca o início do verão no Brasil, estará visível até maio. Confira os horários e observe.
Itinerário
12/2/2019 - Lua perto das plêiades, do lado esquerdo do Homem Velho. Do setor A ao setor D, das 18h30 às 21h30.
13/2/2019 - Lua entre Aldebaran e as Plêiades. Do setor A ao setor D, das 18h30 às 22h30
12/3/2019 - Lua minguante entre a Aldebaran e as Plêiades. Do setor B ao D, das 18h às 20h.
13/3/2019 - Lua do lado direito do Homem Velho, perto da estrela Aldebaran. Do setor B ao setor D, das 18h às 21h.
8/4/2019 - Lua do lado esquerdo do Homem Velho e o planeta Marte entre Aldebaran e as Plêiades. No setor D, das 18h às 18h30.
9/4/2019 - Lua do lado direito do Homem Velho, perto da estrela Aldebaran e o planeta Marte. No setor D, das 18h às 18h30
9/5/2019 - Lua perto das estrelas Pollux e Castor. Do setor C ao setor D, das 18h às 20h.
12/5/2019 - Lua perto da estrela Regulus. Do setor A ao setor D. das 18h às 22h30
Sugestões de leitura sobre temas abordados no artigo
1 Historia da Astronomia no Brasil. Trata de: Astronomia Indígena, Relações céu-terra entre os indígenas no Brasil: distintos céus diferentes olhares. Autores: Flavia Pedroza Lima et al.
http://site.mast.br/HAB2013/historia_astronomia_1.pdf
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