Por Ana Clara Toledo, Daniela Meirelles Andrade, Alaís Oliveira Pila, Gabrielly Fernandes Ribeiro e Sara Aparecida Marques Silva
Integrantes do projeto Empreendedorismo na Escola, do Departamento de Administração e Economia (DAE)
Considerando o cenário público brasileiro de educação, mais especificamente o modificado pela pandemia da COVID 19, questiona-se: é possível realizar uma transformação a fim de renovar as forças do sistema de ensino público? Para muitos, a resposta a essa questão pode ser negativa, pois eles veem tal transformação como uma utopia, como um estado muito longínquo da realidade atual, haja vista os entraves já desgastados no imaginário coletivo. Contudo, tal inquietação pode ser refletida nos conceitos que envolvem o empreendedorismo, a inovação e a educação, os quais abrem novas possibilidades metodológicas de ensino e aprendizagem, com o propósito de renovar as raízes educacionais e plantar um novo sentimento, que deve ser guiado pelo bem comum, com foco na união de forças para transformar a educação e torná-la mais cidadã, humana, empática e autônoma, a fim de gerar o crescimento pessoal e coletivo dos estudantes, bem como o dos docentes e do corpo administrativo das escolas.
O contexto atual, ou seja, o cenário público brasileiro de educação encontra-se carente, sucateado e limitado, principalmente no que concerne à infraestrutura das escolas, ao orçamento público, à formação dos docente e às diferentes realidades locais. De fato, não é um mundo cor-de-rosa, no qual as pessoas estão motivadas por si só a mudarem suas realidades. Pelo contrário, existe um estigma tradicional em cultuar tal recorte descrito acima. Mas o pensamento transformador não vê isso como uma derrota: esse é o desafio e a força! Construir coletivamente novas realidades para milhares de crianças, jovens e adultos e, aos poucos, como quem engatinha para aprender a andar, criar um universo educacional transformador que altere as estruturas da escola, do ensino e da aprendizagem.
Nossa vivência no projeto de extensão Empreendedorismo na Escola envolve discentes de graduação do curso de Administração Pública da Universidade Federal de Lavras e por alunos e alunas entre 13 e 18 anos, do nono ano do ensino fundamental II, de uma escola da rede pública municipal de Lavras. Nossa realidade é composta, diariamente, por desafios sociais, motivacionais e didáticos como, por exemplo, “como lidar com realidades tão distintas e convergir as atenções para os conteúdos das aulas? ”, “como motivar os alunos pela busca de conhecimentos e aprendizados? ”, “que metodologia usar para que o processo de ensino seja efetivo? ”. A verdade é que não existem respostas objetivas para tais indagações - a realidade não é uma prova de múltipla escolha, com prazo curto e exigência de nota alta -
mas há ideias e ações coletivas que visam a solucionar tais problemas.
Dessa forma, no projeto buscamos maneiras de vencer esses desafios. Partimos do pressuposto de que para um aluno e aluna compreenderem o conteúdo de uma aula, é necessário que a temática esteja correlacionada à sua realidade. Isto é, precisamos contextualizar com exemplos do cotidiano deles para que se sintam imersos, confortáveis e instigados a pensarem sobre suas vidas e, então, compreenderem o desenvolvimento da temática da aula. Além disso, dialogamos com os estudantes em uma relação horizontal, mostrando que ambas as partes – professores e alunos- estão ali para aprenderem e construírem o conhecimento juntos. Tal ação busca motivar alunos e alunas a exporem suas ideias e opiniões e a participarem da aula. Por último, mas não menos importante, nos dedicamos a desenvolver metodologias ativas dentro da sala de aula. Utilizamos jogos, filmes, trabalhos em grupo, gincana na quadra poliesportiva, entre outros. Em função da pandemia, desenvolvemos materiais para serem divulgados em nossas redes sociais e estamos buscando inserir novas práticas para continuarmos a instigar uma formação integral. Tudo isso é fundamental para estimular a ação autônoma dos alunos e das alunas e, também, para convidá-los a participar do desenvolvimento da aula.
Assim, nossa proposta é levar aos estudantes do ensino fundamental II novas perspectivas sobre oportunidade, empreendedorismo, empregabilidade e vivência social. Alguns dos temas das aulas são: história do empreendedorismo, características do empreendedor, empreendedorismo social, público, privado e intraempreendedorismo, cidadania e participação social, modelo de negócios etc.
Em nosso projeto, nos espelhamos nas escolas transformadoras, buscando desconstruir o sentimento de exclusão que as escolas tradicionais produzem via rigidez de padrões, regras e impessoalidade nas relações, e passando a construir espaços de vozes abertos às opiniões, ideias, criatividade e diálogo, em que todos podem contribuir para a evolução social. Viver esse projeto dentro das salas de aulas fez com que nós crescêssemos como pessoas, pois nos mostrou a importância que têm o docente, os estudantes, o corpo administrativo da escola na formação conjunta cidadã e humana de cada um daqueles jovens.
A vida dos alunos e das alunas vai muito além de chegar à escola às sete da manhã com sono e sair às onze para o almoço: eles possuem vidas, sonhos, problemas, medos, opiniões e sentimentos. Todos fazem parte do mundo e devem ser olhados e compreendidos- e não apenas vistos! -, para que cada ação seja percebida, cada conversa seja respeitosa, cada nuance seja observada e, assim, ocorra a transformação.
É necessário voltar ao início, quando os caminhos se confundem, isto é, é preciso reconstruir e transformar a educação brasileira pública com base nos pilares da cidadania, da formação intelectual e humana e do pensamento crítico e coletivo, convergindo as forças daqueles que almejam tal mudança e criando espaços de debate sobre a mudança de realidade. O caminho é longo e trabalhoso, mas para construí-lo, como já dizia Drummond sobre o sentimento do mundo, temos que ter em mente que “O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas! ”
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