Por Gilmar Tavares
Professor Titular aposentado e extensionista voluntário do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Lavras (DEA/UFLA)
O projeto de Extensão Universitária Inovadora “Vozes da África” foi idealizado por mim em 2007, com o objetivo de apoiar científica e tecnologicamente a produção continuada de alimentos básicos e fundamentais para as populações carentes em geral, principalmente na África, por meio de capacitações participativas em Tecnologias Socioambientais Sustentáveis da Agroecologia.
Tem-se considerado sistematicamente a Merenda Escolar como espaço ideal para Programas de Segurança Alimentar; assim, concomitantemente às capacitações, desenvolveram-se programas de segurança alimentar participativos, com produtos da Agricultura Familiar obtidos de maneira agroecológica.
Extensionista por convicção, atuando continuamente nas áreas de Agroecologia, Agricultura Familiar e Extensão Universitária Inovadora desde 1978, tomei como inspiração criadora para o "Projeto Vozes da África" a poesia "Vozes d’África", de Castro Alves (11 de junho de 1868). A primeira estrofe diz:
Deus! ó Deus! Onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes. Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito, Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...
Com apoio do professor Rubens J. Guimarães, na época pró-reitor de Extensão e Cultura da UFLA, foi feito o primeiro contato com o casal de alemães Stephan e Martina Zwich, que haviam vivido por muito tempo na República Democrática do Congo e estavam residindo próximos a Lavras. Por intermédio desse casal, em 2007, foi feito o primeiro contato com a Universidade Livre dos Países dos Grandes Lagos (ULPGL), na cidade de Goma, província de North Kivu, República Democrática do Congo.
Em setembro de 2007, o Magnífico Reitor da ULPGL, professor Samuel Ngayihembako Mutahinga, visitou a UFLA. Naquela semana de encontros, em 21/9/2007, firmou-se um "Protocolo de Intenções de Parceria". Aquele evento histórico deu formato oficial para a construção de parceria participativa institucional, sob minha coordenação geral.
Em março de 2008, visitei a ULPGL em Goma e os campi avançados de Butembo e Bukavu, todos North Kivu da República Democrática do Congo (RDC). Durante aquela semana de visitas, foram identificadas e discutidas as primeiras informações para as futuras propostas de estabelecimento do Programa de Mútua Cooperação Participativa.
Em outubro de 2010, o novo reitor da ULPGL, professor Kambale Karafuli, visitou a UFLA e encaminhou o "Acordo de Cooperação UFLA/ULPGL", assinado em 26/1/2011, no formato definitivo. Em seguida, o professor Karafuli daria então uma contribuição significativa à parceria UFLA/ ULPGL, ao visitar a Embaixada Brasileira de Kinshasa, conseguindo inserir o "Projeto Vozes da África" na "Agenda da Visita de Prospecção" que a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério de Relações Exteriores do Brasil (ABC/MRE) promoveria na RDC, em fevereiro de 2011.
Aquela ação oportuna provocou o convite da ABC/MRE a mim, para participar daquele evento, juntamente com o professor Karafuli. Durante o evento, nós assinamos, em 25/2/2011, como futuros parceiros executores, juntamente com a ABC/MRE, o “Proces-verbal des Travaux entre les Experts de L´Agence Brasilienne de Cooperation et les Experts Congolais”.
Assim, as equipes da ULPGL, UFLA e Kinshasa ficaram permanentemente interligadas, formando um grande grupo de trabalho, nas áreas de Agroecologia, Agricultura Familiar e Extensão Universitária Inovadora, que continuou denominado “Projeto Vozes da África”. Graças a essas propostas de execução, foi possível capacitar na UFLA/Brasil, com apoio da ABC/MRE, 60 professores e técnicos congoleses em Agroecologia, Agricultura Familiar e Extensão Universitária Inovadora. Foram quatro turmas de 15 participantes cada uma, no período de outubro de 2011 a abril de 2013. 30 foram oriundos da ULPGL e 30 de Kinshasa.
Em seguida, três professores da ULPGL foram recebidos pela UFLA para participarem de seu programa de mestrado. Um deles continuou os estudos de pós-graduação em nível de doutorado, na própria UFLA. Todos já retornaram à RDC.
Em novembro de 2013, voltei à RDC e, em visitas presenciais para avaliação de resultados, atestei emocionado o sucesso das capacitações e o sucesso do projeto nas várias áreas da Agroecologia, bem como os resultados expressivos de produção de alimentos básicos e fundamentais, em regiões de tantos conflitos armados, constantes e sangrentos.
A ULPG foi primeira parceira desde o início. Com a adesão do "Ministério da Agricultura da RDC", tendo como representante legal o Eng. Omar Babene; com a adesão do "INERA (Institut National pour l'Etude et la Recherche Agronomiques)" de Kinshasa, capital, tendo como focal-point o pesquisador professor Thomas Mondjalis Poto, capacitado na UFLA em 2012; e com a adesão da "ONG-Solidariedade Feminina", da cidade de Kindu, da província de Maniema e presidida pela fundadora Mme. Nathalie Kapunga, capacitada na UFLA em 2015, o "Projeto Vozes da África" tomou grande impulso, com resultados exitosos disponibilizados logo a seguir.
Em 2015, fui agraciado com o honroso título de Professor Doutor Honoris Causa, pela Universidade Livre dos Países dos Grandes Lagos (ULPGL), Goma, República Democrática do Congo, North Kivu, na África. Em agosto de 2018, sob patrocínio da ABC/MRE, os senhores Omar Babene (MA), Thomas Mondjalis Poto (INERA) e Kakule Molo (ULPGL), juntamente com a senhora Nathalie Kapunga (ONG-SF), vieram à UFLA para exposição de resultados e planejamento de novas etapas. Neste evento, o IF Sul de Minas foi aceito como parceiro do projeto.
A partir de 2016, o projeto foi estendido à Asia, com o nome "Projeto Vozes da Ásia", e encontra-se em franco desenvolvimento no Afeganistão, Paquistão e Rússia, porém paralisado em Myanmar. Nesse mesmo ano, foi estendido também para Moçambique, por meio de parceria participativa com a ONG-Fraternidade Sem Fronteiras, e atualmente encontra-se em readequação.
Apesar da pandemia, o projeto encontra-se em pleno desenvolvimento, embora as dificuldades tenham aumentado. Todos os parceiros continuam atuando em suas frentes de trabalho (Kinshasa, Goma/Butembo/Bukavu) e Maniema/Kindu). Um professor colaborador do INERA/RDC faleceu de Covid-19;
A vinda da delegação de 35 congoleses para novas capacitações em Agroecologia foi adiada para agosto de 2021. O Boletim Técnico Extensionista sobre Biofertilização, em vernáculos africanos (swahili, lingala e kikongo), acompanhado das versões em inglês e francês, está na Editora UFLA em fase de diagramação.
Confira algumas notícias extensionistas exitosas do "Projeto Vozes da África", disponibilizadas como testemunho do sucesso do projeto:
UFLA e Organização Fraternidade sem Fronteiras articulam parceria para capacitação em Moçambique
Professor da UFLA realiza missão extensionista agroecológica em Moçambique
Projeto Vozes da África em Moçambique :
UFLA doa livros e publicações a instituto parceiro de Moçambique
UFLA propõe ações de recuperação de nascentes para Moçambique
Vozes da África agora na Guiné-Bissau: primeiras iniciativas do projeto já estão em curso
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