Graziella Emilioreli
Elaine Aparecida Leandro
Maria Aparecida Teixeira de Siqueira
Helena Libardi

Instituto de Ciências Exatas e Tecnológicas 

As conquistas acerca do respeito e espaços para a pessoa com deficiência se deram ao longo de muitas décadas, por meio de muitos movimentos de lutas. Em relação ao ensino, muitos esforços têm sido feitos para que esse grupo tenha o direito à educação. É necessário que a estrutura física das escolas esteja adequada ao acesso e permanência desse público, e que as escolas contem com salas de recurso e professores de apoio para aqueles que necessitam. O ensino inclusivo vem ganhando espaço, tendo em vista que os direitos das pessoas com deficiência são assegurados por decretos e leis. Cabe a nós o papel de cobrar o cumprimento da legislação na observância de suas necessidades.

Nesse contexto, apresentamos um pouco da experiência de três profissionais da educação, que atuam em meio à pandemia do novo coronavírus (Covid-19): uma professora da escola especial, uma da rede particular de ensino e uma professora de apoio. Buscaremos trazer um pouco de nossas experiências e enfatizar a importância dos apoios para o ensino educacional especial, conforme previstos em diversos decretos, mostrando como foi o desafio de vivenciar o exercício de ensinar sem os poucos recursos que ainda contamos nos dias de hoje.

A realidade da escola especial, com turmas de dez estudantes com Deficiência Intelectual e Múltipla, mudou no início de 2020, com as notícias relacionadas ao crescimento da pandemia que circulava por todo o mundo, à sua aproximação de nosso País e com o registro dos primeiros casos de Covid-19 no Brasil. Os estudantes, em sua maioria, têm a escola como seu principal local de referência, para expressão de seus pensamentos e suas potencialidades, pois são estimulados e amparados pelos profissionais que são capacitados a lidar com a educação especial.  Ao iniciarmos o distanciamento social, foi adotado o ensino remoto. Os estudantes sentiram muito. Os professores não tinham experiência para lidar com essa proposta de ensino. A dúvida sobre como desenvolver uma proposta dessa dimensão, considerando limitações físicas, mentais, estruturais, sociais e emocionais, faziam-se presentes nas rodas de conversa e no íntimo dos profissionais envolvidos nesse processo. Foi decidido entre os membros da instituição, em alinhamento com a proposta da superintendência regional de ensino e confederação das APAES, que os materiais seriam elaborados pelos próprios professores, respeitando a individualidade de cada estudante.

Os estudantes com Deficiência Intelectual e Múltipla, em épocas normais, exigem atenção especial em suas particularidades, exercício que faz com que nos reinventemos todos os dias, na produção de materiais concretos, jogos, entre outros. Mas o fator potencializador de todo esse processo é a mediação do professor, no momento e medida certa, com paciência e por acreditar no potencial desse estudante e na interação entre os colegas.  Durante todo o processo, percebemos o sentimento de tristeza dos estudantes por estarem longe da escola e que eles vivenciaram um momento no qual novos conhecimentos não foram agregados; nossos esforços foram para manter aspectos daquilo que já conheciam. Esse contexto nos fez repensar a importância dos apoios que foram conquistados ao longo dos anos, e como é fundamental o processo de inclusão respeitando as individualidades de cada um.

Na escola particular, a experiência foi no ensino fundamental e médio, com estudantes que possuem Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Embora no Brasil ainda não existam legislações específicas que defendam os direitos dos estudantes com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), eles podem se beneficiar de diversas leis, diretrizes e declarações que se referem ao sistema de educação, uma vez que o TDAH não é considerado uma deficiência, mas se enquadra nos direitos de uma pessoa com transtornos globais do desenvolvimento. A formação docente em educação especial e inclusiva ainda é pouca. A dificuldade para incluir o estudante com TDAH já é grande em aulas presenciais, aumentando quando o ensino passa a ser remoto e/ou híbrido. Pela característica deste estudante, manter a atenção é um desafio a mais. Por vezes, os estudantes podem estar on-line, mas não estão presentes, nem mesmo à frente do computador ou do celular, o que dificulta ainda mais todo o processo de ensino e aprendizagem.

Para o professor de apoio que atua em uma rede particular, a pandemia também trouxe muitas dificuldades quanto ao contexto escolar, principalmente em relação aos fatores que ocorrem no processo de ensino e aprendizagem. A mediação entre os pares, estudantes com deficiência, professores e profissionais de apoio foi rompida devido a tal contexto, necessitando, assim, do apoio das famílias para a continuidade desses trabalhos. A família, que sempre teve um papel importante nos processos escolares, neste momento está sendo essencial.

Esses três cenários trouxeram desafios semelhantes. Precisamos ter em mente que o planejamento educacional em crises requer soluções criativas  (HODGES et al. 2020). Com o ensino remoto emergencial, várias são as dificuldades, como falta de internet de qualidade ou aparelhos compatíveis com os aplicativos das escolas (ROCHA; COELHO, 2020), e as dificuldades são agravadas quando pensamos nos estudantes com deficiência. 

Muitos estudantes têm familiaridade com o Whatsapp, Facebook e Instagram. O uso dessas redes, associadas às plataformas tradicionais, teve papel importante no processo de ensino e de aprendizagem, trazendo novas e positivas possibilidades em torno da aprendizagem, mostrando novas possibilidades existentes além do contato social. Seu uso permite que o contato com o estudante se mantenha, tanto para o apoio pedagógico como emocional. Esse apoio dá segurança ao estudante e suas famílias, o que impulsiona a aprendizagem.

Percebemos que o envolvimento da família fez a diferença no bom desempenho da proposta de ensino remoto. Com a característica do estudante com deficiência e com o distanciamento imposto pela pandemia, o apoio da família tornou-se ainda mais importante para o processo de aprendizagem.

As atividades presenciais nas escolas não retornaram plenamente. Os cuidados e as preocupações com a aprendizagem dos estudantes com deficiência permanecem. Mas temos a certeza de que dias melhores virão. E, como em qualquer momento, continuamos lutando pela garantia de direitos para as famílias e as pessoas com deficiência.

Referências

GOMES, Sebastião Braz; COSTA, Roseli Terra Oliveira. Engajamento dos alunos das escolas públicas em tempo de pandemia do coronavírus. IntegraEaD, v. 2, n. 1, p. 11-11, 2020.

HODGES, Charles, MOORE, Stephanie; LOCKEE, Barb, TRUST, Torrey; BOND, Aaron. The Difference Between Emergency Remote Teaching and Online Learning. USA: Educause Review, mar. 2020.

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