Diretrizes para publicação de notícias de pesquisa no Portal da UFLA e Portal da Ciência

A Comunicação da UFLA, por meio do projeto Núcleo de Divulgação Científica e da Coordenadoria de Divulgação Científica, assumiu o forte compromisso de compartilhar continuamente com a sociedade as pesquisas científicas produzidas na Instituição, bem como outros conteúdos de conhecimento que possam contribuir com a democratização do saber.

Sendo pequeno o número de profissionais na equipe de Comunicação da UFLA; sendo esse órgão envolvido também com todas as outras demandas de comunicação institucional, e considerando que as reportagens de pesquisa exigem um trabalho minucioso de apuração, redação e revisões, não é possível pautar todas as pesquisas em desenvolvimento na UFLA para que figurem no Portal da Ciência e no Portal UFLA. Sendo assim, a seleção de pautas seguirá critérios jornalísticos. Há também periodicidades definidas de publicação.

Todos os estudantes e professores interessados em popularizar o conhecimento e compartilhar suas pesquisas, podem apresentar sugestão e pauta à Comunicação pelo Suporte. As propostas serão analisadas com base nas seguintes premissas:

  • Deve haver tempo hábil para produção dos conteúdos: mínimo de 20 dias corridos antes da data pretendida de publicação. A possibilidade de publicações em prazo inferior a esse será avaliada pela Comunicação.

  • Algumas pautas (pesquisas) podem ser contempladas para publicação no Portal, produção de vídeo para o Youtube, produção de vídeo para Instagram e produção de spot para o quadro Rádio Ciência (veiculação na Rádio Universitária). Outras pautas, a critério das avaliações jornalísticas, poderão ter apenas parte desses produtos, ou somente reportagem no Portal. Outras podem, ainda, ser reservadas para publicação na revista de jornalismo científico Ciência em Prosa.

  • As matérias especiais de pesquisa e com conteúdos completos serão publicadas uma vez por semana.

  • É possível a publicação de notícias sobre pesquisa não só quando finalizadas. Em algumas situações, a pesquisa pode ser noticiada quando é iniciada e também durante seu desenvolvimento.

  • A ordem de publicação das diversas matérias em produção será definida pela Comunicação, considerando tempo decorrido da sugestão de pauta, vínculo do estudo com datas comemorativas e vínculo do estudo com acontecimentos factuais que exijam a publicação em determinado período.

  • O pesquisador que se dispõe a divulgar seus projetos também deve estar disponível para responder dúvidas do público que surgirem após a divulgação, assim como para atendimento à imprensa, caso haja interesse de veículos externos em repercutir a notícia.

  • Os textos são publicados, necessariamente, em linguagem jornalística e seguindo definições do Manual de Redação da Comunicação. O pesquisador deve conferir a exatidão das informações no texto final da matéria e dialogar com o jornalista caso haja necessidade de alterações, de forma a se preservar a linguagem e o formato essenciais ao entendimento do público não especializado.

Sugestões para aperfeiçoamentos neste Portal podem ser encaminhadas para comunicacao@ufla.br.

salão étnico voltados para cabelos de negros e pretos

Se, há poucos anos atrás, assumir os cachos e o cabelo crespo era algo raro no Brasil, hoje a população afrodescendente tem valorizado cada vez mais, e de várias formas, sua identidade. Usam os cabelos naturais no estilo black power, à moda da ativista do movimento feminismo negro Angela Davis, soltos e longos, com dreadlocks, tranças afro, repicados. De um lado, as mulheres estão abandonando os fios lisos à base de relaxamento, chapinha ou escova. Do outro, os homens superam a tendência de raspar o cabelo para se livrar do “problema” dos fios crespos. Um movimento social, político e econômico marca diferença nesse cenário: trata-se do surgimento e fortalecimento dos salões étnicos. 

O fenômeno é tema da dissertação da pesquisadora Ana Flávia Rezende, mestre pelo programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA/UFLA), da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas (FCSA). Coordenado pela professora Flávia Mafra, o estudo buscou identificar como os empreendedores negros do ramo resistem à lógica da subalternidade colonialista que estrutura a sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que contribuem para a construção da identidade racial e a valorização da estética negra no País. 

Três empresárias e dois homens negros, que dirigem salões étnicos em Belo Horizonte (MG), voltados para cabelos de negros e pretos, contaram, por meio de entrevistas, seus casos de sucesso no mercado de cabelo afro. A pesquisa de campo permitiu colher narrativas que, após passarem por um processo de sínteses e análises, mostraram que os empreendedores precisam enfrentar frequentemente questões características da colonialidade, como o preconceito e o racismo. São narradas situações que vão desde a dificuldade do negro em alugar um espaço para o salão étnico, devido ao fato de a imobiliária exigir dos locatários mais fiadores do que normalmente pede ao empreendedor branco, até a ausência de produtos no mercado para cabelo negro, sob alegação de que o público não tem renda para consumi-los. Ter um negócio afro não protege esses empreendedores, mas o empreendimento configura-se como mais uma forma de os negros resistirem e sobreviverem, desde a escravidão. 

O carro-chefe dos empreendimentos vai da prestação de serviços especializados para os cuidados com o cabelo cacheado e crespo à venda de produtos próprios.  Mas não param por aí: eles também oferecem alternativas para unhas e cuidados corporais. E muita luta social e política. Tudo para valorizar a estética negra e resistir à exclusão social. 

Ana Flávia Rezende explica que esses são locais que se autodeclaram salões de beleza voltados para tratar cabelo crespo e/ou cacheado de homens e mulheres negras, resgatando a valorização do cabelo natural, sua estética e traços fenótipos negados ao longo da história. “Eles constroem a identidade racial a partir da valorização do cabelo afro. Pelo viés racial, o negro sempre teve que adequar o seu cabelo ao padrão eurocêntrico de beleza, padronizado como liso e longo. Portanto, salões étnicos vão contra esse movimento, a partir do compromisso com o cabelo afro natural negado faz tanto tempo”, diz ela, lembrando também que é possível encontrar produtos químicos para alisamento dos fios nesses estabelecimentos. 

A pesquisa menciona que a maior parte dos salões de beleza no Brasil ignoram e apagam os interesses e a beleza da pessoa negra. “Sobram tentativas de estereotipar o negro, que devia, até o aparecimento dos salões étnicos, se encaixar em um padrão que não é adequado para ele. O que seria isso, se não um tipo de violência? ”, questiona a professora Flávia. Na visão dela, salões de beleza tradicionais cometem violência ao negar tratamento adequado ao cabelo afro, sem entender a especificidade da estrutura dos fios cacheados e crespos.

Na última década, o mercado mudou para atender o público negro. Recente pesquisa divulgada pela multinacional L'Óreal aponta que 23 milhões das mulheres têm cabelos cacheados, crespos ou muito crespos no Brasil - o que equivale à população inteira da Austrália.  Lojas que, no passado, apenas ofereciam produtos para alisamento de cabelos cacheados e crespos, agora repõem estoques variados de opções especializadas neles. São inúmeras linhas de cremes de hidratação, finalizadores, óleos vegetais, shampoos, condicionadores e muito mais. Alguns donos de salões étnicos também embarcaram na fabricação de produtos próprios, grande parte deles baseado em conhecimentos ancestrais repassados entre diferentes gerações na família. 

Engana-se quem pensa que o surgimento dos salões étnicos começou na periferia das grandes cidades.  Durante o desenvolvimento da pesquisa, eles se concentravam na região central e centro-sul de Belo Horizonte, cobravam preços apimentados pelos serviços e produtos oferecidos, além do fato de o cliente procurar por uma brecha entre agendas lotadas. Uma realidade bem diferente do que os empreendedores entrevistados escutaram na hora de tirar o negócio do papel. O compromisso com a causa racial gera lucro.  “Você vai montar um salão para gente preta? Eles não têm dinheiro e não dará retorno’, foram comentários que os empreendedores negros tiveram de superar. Na prática, acontece o oposto”, conta Ana Flávia Rezende.

No aspecto social, os salões étnicos fomentam a troca de saberes populares e as últimas tecnologias para tratamento de cabelo, aprendizados e sentimento de pertencimento. É um espaço onde a população negra se articula politicamente e denuncia as opressões de raça, gênero, classe e sexualidade, entre outros.  “Lá, o negro encontra seus iguais com pele e cabelo parecidos ao seu, com experiência de vida semelhantes à sua”, reforça Ana Flávia Rezende. 

Contra a opressão colonial 

A pesquisa apontou que os donos de salões étnicos e seus clientes enfrentam no cotidiano a lógica colonial estrutural da sociedade brasileira. Esse comportamento consolida esses negócios, que se tornam ponto de encontro e celeiro de resistência. A colonialidade explica a perpetuação das relações de poder que se estruturaram no Brasil. “O fim da escravidão não rompeu essa relação de poder que se mantém até hoje. Ainda no século XXI, vemos a enorme diferença de poder entre pessoas brancas e negras, e entre negros de pele mais clara e escura, em um país extremamente mestiço”, relembra Ana Flávia Rezende.  

Na visão das pesquisadoras, a relação de poder muda de acordo com a tonalidade da pele:  quanto mais escura, mais a pessoa sofre as consequências do racismo, da opressão, da desigualdade de poder e de acesso à educação, serviços públicos e oportunidades de trabalho. O problema decorre do processo de escravidão que se reflete até hoje nas relações sociais e econômicas. “Tanto é que o Brasil negou o racismo por muitos anos. É muito difícil lutar contra algo que é negado. A colonialidade coloca negros como subalternos e brancos como superiores”, frisa a mestre em Administração, que durante a própria dissertação assumiu o cabelo afro. 

A questão racial é o centro do conceito para se pensar a colonialidade no mundo inteiro, ao estabelecer quem está inferior ou superior no estrato social, segundo a professora Flávia Mafra. “A definição de povos inferiores impede populações de ascenderem socialmente e terem vários direitos, inclusive de se vestirem e usarem o cabelo como querem. É neste contexto de negação da forte estrutura social do país que o empreendedor negro desenvolverá uma série de mecanismos subjetivos e objetivos, com a finalidade de estruturar os salões étnicos”, disse. 

 



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