Com mercado em constante crescimento, alternativa propõe minimizar efeitos climáticos que prejudicam anualmente as lavouras e contribuir com a produtividade.
Uma das grandes preocupações dos cafeicultores, as geadas, responsáveis por grandes perdas de safra, têm sido a motivação para uma pesquisa desenvolvida na Universidade Federal de Lavras (UFLA) em parceria com a Universidade da Califórnia em Davis (UC-Davis). Os pesquisadores têm testado o uso do selênio (Se), um elemento já utilizado em outras culturas como parte da biofortificação agronômica, que visa combater a deficiência nutricional em humanos, conhecida como fome oculta. No café, os estudos envolvendo o selênio ainda são incipientes.
O trabalho busca a melhor técnica de inserir o selênio na planta e faz parte da tese de doutorado do discente do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo (PPCS) Gustavo Ferreira de Sousa, intitulada “Effects of selenium supply on antioxidant system, plant growth, and tolerance to environmental stresses (Efeitos do fornecimento de selênio no sistema antioxidante, crescimento das plantas e tolerância a estresses ambientais) ”. Conforme explica o doutorando, as plantas precisam de determinadas quantidades de água, luz e temperatura para se desenvolverem. Quando esses fatores ambientais estão em condições extremas, seja pela baixa ou alta quantidade (seca, geadas), ocorre um estresse na planta, o que desencadeia respostas fisiológicas, reduzindo o desenvolvimento e prejudicando a produtividade. “Entre as alternativas de combate a essas respostas fisiológicas negativas está a nutrição mineral. Inserimos determinados nutrientes ou elementos benéficos, que vão desempenhar funções específicas dentro da planta, e podemos manejar a concentração, a forma, e desenvolver técnicas que vão mitigar esses efeitos negativos do estresse”.
Minas Gerais é o maior produtor nacional de café, com 451 municípios que cultivam a planta. Dados da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) mostram que, em 2021, 21,45 milhões de sacas foram colhidas, número que poderia ter sido maior se não houvesse prejuízos provocados pelas geadas dos meses de junho e julho em muitas cidades produtoras. O professor da Escola de Ciências Agrárias de Lavras (Esal) da UFLA Luiz Roberto Guimarães Guilherme conta que foi muito visível a eficiência do selênio na planta. “Devido à experiência em outras culturas, já tínhamos a expectativa de que daria certo. Nossos estudos se concentram sobre o frio. Ao aplicarmos o selênio na planta, ele melhora o metabolismo, sobretudo aquele ligado ao conteúdo de açúcares na planta. Isso faz com que, ao chegar o frio, essas plantas sofram menos com problemas das geadas, continuando ativas e produzindo. Com esses estudos, vai ser possível levar essa tecnologia ao produtor e reduzir perdas e desperdícios”, conta.
A primeira etapa da pesquisa foi realizada na UFLA. Em uma câmara com controle de temperatura, umidade e luminosidade, os pesquisadores colocaram as mudas de café - que são mais sensíveis do que plantas adultas - com e sem selênio e inseriram condições extremas; depois, voltaram a temperatura ao normal para observar como a planta reagiria. “Não adianta nada a planta sobreviver ao frio se depois ela não se recuperar, quando volta à sua condição normal. Por isso, nossa intenção também é entender qual é o mecanismo de resposta da planta ao selênio, buscando um entendimento molecular para saber quais são as vias que estão respondendo a esse tratamento, para que possamos utilizar essa informação futuramente, em programas de melhoramento”, comenta o professor Antônio Chalfun Júnior, do Instituto de Ciências Naturais (ICN/UFLA)
O selênio exerce diversas funcionalidades no metabolismo da planta, podendo aumentar a concentração de clorofilas, combater radicais livres, ativar enzimas, entre outras. A aplicação desse elemento benéfico, além de fortalecer a planta para as condições de estresse climático, também promove esses outros benefícios, fazendo com que a absorção de outros nutrientes melhore e contribua para uma boa safra.
Atualmente, Gustavo, com apoio da também discente do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo Maila Adriely Silva, conduz seu experimento na UC-Davis, na Califórnia. Lá, os estudos são realizados para inserir a cultura do café no litoral da costa do Pacífico, onde as temperaturas são muito baixas no inverno.