Como está a sua alimentação? Você se inspira na rotina alimentar e de exercícios de outras pessoas pelo Instagram? Que o mundo fitness e a busca pelo corpo perfeito estão entre os temas que mais geram rendimentos nas redes sociais, ninguém duvida. O Brasil tem a segunda maior base de usuários do Instagram, com 50 milhões de perfis ativos mensais. Na busca por maior visibilidade no aplicativo de compartilhamento de imagens e texto, alguns nutricionistas desrespeitam o Código de Ética e de Conduta da profissão, indicam dietas restritivas e compostos alimentares que prometem efeitos milagrosos, segundo os resultados de uma pesquisa do Departamento de Nutrição (DNU) da Universidade Federal de Lavras (UFLA).
Premiado durante o V Simpósio Brasileiro de Nutrição Comportamental, o estudo, orientado pela professora do DNU Maysa Helena Toloni, analisou as postagens de 51 nutricionistas, com mais de dois mil seguidores, nos quesitos prescrição de cápsulas, fotos de antes e depois, orientação de dietas e comentários dos usuários. “A ideia do estudo era avaliar a influência que as postagens dos nutricionistas poderiam causar nos seguidores e investigar se as postagens eram guiadas pela ética ou mero marketing profissional”, explicou a pesquisadora e nutricionista Grayce Kelly de Andrade.
A pesquisa apontou que profissionais da área movimentam, com frequência, seus perfis em torno de dietas sem glutén, sem lactose, "low carb", jejum intermitente e dieta cetogênica (baseada no alto consumo de proteínas e lipídeos). Várias publicações contam com propagandas de produtos patrocinados por empresas. “Cresce a crença de que apenas restrições calóricas provocam emagrecimento, enquanto estudos científicos já comprovaram o desenvolvimento de transtornos alimentares futuros por quem adota dietas restritivas”, afirmou.
Outros erros usados para captar e reter seguidores são a divulgação de informações sem embasamento científico e o estímulo ao consumo de suplementos alimentares caros, desvinculados da cultura alimentar do brasileiro. "Cápsulas de Ascophyllan,conhecida como alga marrom, ou de carvão ativado são exemplos das formulações publicadas por alguns profissionais devido aos compostos bioativos, que podem ser encontrados facilmente em alimentos in natura. Alguns dos produtos divulgados possuem restrições de consumo pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Algumas embalagens não explicam o que é e não têm evidências dos resultados em artigos científicos”, esclareceu Grayce.
A pesquisadora ressalta o perigo de, sem orientação profissional, um usuário consumir os produtos. “O internauta que quer adotar a dica por conta própria nem sempre tem uma alimentação adequada, e pode ter patologias desconhecidas que interferem nos resultados idealizados. É comum recomendarem até mesmo a dosagem para que outro usuário manipule a fórmula, o que pode prejudicar a saúde”, argumentou.
As fotos de “antes e depois” estão estampadas nas redes sociais de muitos nutricionistas. Em uma delas, por exemplo, a personagem da bruxa da história infantil “A Branca de Neve” é parabenizada por dar à princesa uma maçã – mesmo que envenenada. “A postagem reafirma preconceito que apenas mulheres magras, cujo corpo esculpido foi alcançado ao passar vontades, conquistam príncipes encantados. As supostas imagens de superação, muitas delas manipuladas em programas de edição de imagem, são capazes de gerar transtornos psicológicos e psiquiátricos em quem não se sente representado”, alertou.
As práticas vão contra o Código de Ética e de Conduta da Nutrição, arcabouço de princípios, responsabilidade, direitos e deveres norteadores da prática diária dos profissionais da área. Atualizado em março de 2018, o texto esclarece ser dever do nutricionista adequar as práticas profissionais às necessidades de cada indivíduo, "não ceder a apelos de modismos, a pressões mercadológicas ou midiáticas e a interesses financeiros para si ou terceiros." Fotos de pacientes antes e depois de seguir um suposto plano alimentar são proibidas. "Contudo, muitos ainda publicam", comenta Grayce.
Acompanhamento profissional
Avaliação física e exames bioquímicos são necessários para a elaboração de um plano alimentar individual com a finalidade de se atingir alimentação saudável, emagrecimento e ganho de massa muscular. “O que é prescrito para um pessoa pode não ser suficiente ou adequado para outras. É preciso considerar as patologias do paciente, sua realidade socieconômica e cultural, além do seu comportamento”, orienta a pesquisadora e nutricionista Grayce Kelly de Andrade.
Reportagem: Pollyanna Dias, jornalista- bolsista Dcom/Fapemig
Edição dos Vídeos: Luís Felipe Souza Santos e Rafael de Paiva- bolsista e estágiário Dcom/UFLA