Do cerrado para a mesa do brasileiro, frutos da região ganham cada vez mais atenção do ramo alimentício. Na procura por novos alimentos que melhorem a qualidade de vida, pesquisadores do Departamento de Ciência de Alimentos (DCA) da Universidade Federal de Lavras (UFLA) elaboraram pães doces e cookies mais nutritivos e funcionais do que os convencionais. O segredo das receitas está no emprego de pequi, da guariroba e do marolo - todos eles são ricos em vitaminas e minerais.
O professor do DCA e coordenador do Núcleo de Estudos em Pós-colheita de Frutas e Hortaliças (NEPC) Eduardo Valério Vilas Boas explica que a farinha de trigo foi substituída por até 20% de farinha dos três frutos do cerrado. A composição ainda leva 10% de polpa do pequi, 40% de polpa da guariroba e do marolo, ao invés de água.
Para testar a aceitação dos novos produtos da panificação, estudantes de seis a dez anos de escolas municipais de Lavras provaram os quitutes. “Por meio da análise sensorial ficou claro que a aceitação de textura, cor e sabor foi unânime. Abre-se uma alternativa para incluir os frutos no cardápio da merenda nas escolas da região e do cerrado”, informou.
Durante o estudo, os pesquisadores ainda realizaram experimentos de análises físicas, químicas, nutricionais e funcionais dos pães e cookies. Os resultados demonstraram a eficácia do pequi e da guariroba no enriquecimento dos alimentos porque eles contêm antioxidantes, vitaminas A e C e gorduras boas, entre outras propriedades que ajudam no funcionamento do corpo.
Na comparação com a farinha de trigo, por exemplo, pães e biscoitos fabricados com farinhas desses frutos do cerrado supriram a debilidade nutricional encontrada no produto tradicional. “O pão convencional fornece praticamente só amido, que se torna energia para o organismo. Ou seja, é fonte de calorias vazias, apenas engorda”, ressalta.
Os testes laboratoriais comprovaram que o pão enriquecido aumenta a ingestão de fibras. “Consequentemente, elas reduzem o colesterol e o índice glicêmico no sangue, o que pode ser pensado para a dieta dos diabéticos”, apontou.
Eficácia
A cor amarela do pequi indica a presença de betacaroteno, que se converte em vitamina A no organismo. No laboratório de tecnologia de alimentos, já foi confirmado que o pequi tem mais dessa vitamina do que a cenoura, segundo Eduardo Valério Vilas Boas.
A carência de vitamina A pode trazer prejuízos ao sistema imunológico, problemas na visão, na pele e de cicatrização. “Diante do baixo consumo de vitamina A em várias regiões do Brasil, a introdução do pequi na merenda escolar, por exemplo, supriria essa deficiência nas crianças”, disse.
Entressafra
Os frutos que eram vendidos in natura, ganharam outras formas por meio das descobertas da indústria de alimentos. O processamento e a comercialização encontram alguns gargalos: o período de frutificação e colheita dos frutos do cerrado dura entre 30 e 60 dias por espécie.
Uma das formas encontradas para a popularização dos frutos é o uso de polpas, permitindo sua utilização em períodos de entressafra. “Para garantir a presença dos frutos na mesa do consumidor o ano inteiro, com qualidade nutricional e funcional, é possível o congelamento da polpa que será usada para elaborar vários produtos, como de panificação”, afirma o coordenador do NEPC.
Pequi é um fruto nativo do cerrado muito comum no norte de Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, São Paulo e Bahia. Já a guariroba é encontrada também nas matas do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Triângulo Mineiro e Tocantins.
Reportagem: Pollyanna Dias, jornalista- bolsista Dcom/Fapemig
Edição dos Vídeos: Luís Felipe Souza Santos - bolsista Dcom/UFLA