A Universidade Federal de Lavras (UFLA) investe em várias linhas de pesquisas que pretendem aumentar o teor de nutrientes fundamentais para a alimentação humana, por meio do manejo da adubação de culturas agrícolas e melhoramento genético - a chamada biofortificação de alimentos. Uma delas é o programa Melhor Arroz, do Departamento de Ciência do Solo (DCS), que desenvolve arroz enriquecido de zinco e selênio há cinco anos. Foi nesse contexto que a UFLA recebeu no domingo (10/2) a visita do coordenador da rede internacional de pesquisas sobre biofortificação do Projeto HarvestZinc, pesquisador da Universidade Sabanci, da Turquia, Ismail Cakmak. O especialista também acompanhou os estudos de biofortificação em experimentos do campo experimental em Patos de Minas da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), parceira da UFLA na elaboração de soluções para reverter a deficiência nutricional no cultivo de arroz.
Vinculado ao Programa HarvestPlus, o projeto Harvest Zinc conta com o fornecimento de apoio técnico em pesquisas que testam a biofortificação agronômica nas culturas do arroz, trigo e milho em 13 países, como China, Índia, Paquistão, África do Sul, Tailândia, entre outros. No Brasil, a cultura alvo é o arroz. Em meio ao campo de arroz biofortificado da UFLA, Ismail Cakmak ressaltou a importância de se investir na elaboração de fertilizantes enriquecidos e de melhoramento genético que, além de garantir aumento da produção agrícola, ofereçam maior teor de nutrientes para os alimentos, com o intuito de acabar com a fome e a desnutrição em todo o mundo. "O experimento está no caminho certo e abre uma janela de oportunidades para reverter o quadro de deficiência de zinco nas plantas e, consequentemente, na saúde humana. É preciso que a universidade continue testando a absorção do zinco e do selênio na planta. No futuro próximo, essa tecnologia precisa chegar ao pequeno produtor rural", recomendou o coordenador internacional do HarvestZinc.
O professor Luiz Roberto Guimarães Guilherme, do DCS, informa que o projeto está na quarta fase. "Damos continuidade ao esforço de adicionar às plantas nutrientes separados e por coquetéis. Primeiro o carro chefe era o zinco e depois acrescentamos selênio, iodo e ferro. Nesse momento, os resultados reforçam as avaliações de que esse conquetel é possível para o agricultor colocar arroz biofortificado no mercado e na merenda escolar", ressalta.
Segundo o pesquisador da Epamig, Fábio Aurélio Martins - que também coordena o projeto no país -, as concentrações de zinco, iodo e selênio, após a pulverização foliar da planta com esses elementos, aumentou significativamente nos grãos de arroz. "O fato do coordenador do HarvestZinc vir aqui e compartilhar suas experiências conosco, fazer críticas construtivas aos erros e elogiar acertos permite que trabalhemos com mais entusiasmo e percebamos que o projeto atinge resultados satisfatórios na sua função principal, que é diminuir a desnutrição e melhorar a qualidade de vida das pessoas", comemora.
O professor do DCS Alfredo Scheid Lopes (Alfredão) também elogiou os resultados da biofortifição do arroz e a visita do especialista. "Alimentos biofortificados abriram, recentemente, um novo horizonte na agricultura e felizmente a UFLA está envolvida com projetos de ponta. A tecnologia tem relação com a nova dimânica de produção de alimentos no mundo, que não é só produzir em quantidade, mas também produtos com qualidade", frisou.
Super arroz
Desde 2013, o projeto Melhor Arroz desenvolve arroz biofortificado com zinco e, nos últimos dois anos, também passou a enriquecer a planta com selênio, em parceria com a Epamig e a Embrapa Arroz e Feijão. A professora Flávia Barbosa Silva Botelho esclarece que a tecnologia utilizada consiste no melhoramento genético por meio do cruzamento entre as plantas mais propensas a atingir o melhor enriquecimento de nutriente. "Selecionamos as plantas de arroz que associaram todas as características favoráveis à capacidade de produção, plantio precoce, resistência às doenças e qualidade do grão, além do adicionamento de zinco e selênio", informou.
A parceria com a rede internacional de pesquisas em biofortificação aconteceu há um ano. "Fornecemos as variabilidades genéticas do arroz que mais absorveram os nutrientes em Minas Gerais para o HarvestZinc e avaliamos os resultados desses cultivares", conta Flávia Barbosa Silva Botelho. O plantio ocorreu no final de outubro de 2018 e a primeira safra será colhida em março.
Reportagem: Pollyanna Dias, jornalista- bolsista Dcom/Fapemig