A floresta Amazônica representa um terço das Florestas Tropicais do mundo e corre grandes perigos. Pesquisas apontam que seu índice de desmatamento é alarmante. A recuperação dessas áreas também é lenta, como demonstra estudo publicado na revista “Ecology”, que acompanhou o desenvolvimento de florestas em áreas abandonadas e aponta que a Amazônia está crescendo mais devagar. A pesquisa é liderada pelo professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Fernando Elias, e pesquisadores da Embrapa; conta também com a participação do professor visitante Jos Barlow, do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Lavras (DBI/UFLA).
O estudo “Avaliação do crescimento e da sensibilidade climática de florestas secundárias em paisagens amazônicas altamente desmatadas” acompanhou o desenvolvimento de florestas em áreas abandonadas na região Bragantina - uma das mais antigas fronteiras agrícolas pós-colombianas na Amazônia brasileira. Um conjunto de dados de 10 inventários florestais repetidos ao longo de duas décadas (1999–2017) foi utilizado para investigar a recuperação de espécies de árvores e a dinâmica do carbono em uma floresta secundária, além de analisar como o contexto climático e paisagístico influenciam as florestas que crescem após a agricultura.
A partir dos dados coletados, os pesquisadores sugerem que é improvável que essas áreas retornem aos seus níveis originais e que o ecossistema corre sérios riscos. “As florestas tropicais detêm 30% do carbono terrestre da Terra e pelo menos 60% de sua biodiversidade terrestre, mas a perda e a degradação das florestas estão colocando em risco esses ecossistemas”, explica o pesquisador Jos Barlow.
Perda de carbono
O Ciclo do Carbono consiste na transferência do carbono na natureza, por meio das várias reservas naturais existentes, sob a forma de dióxido de carbono. Pequenas mudanças nesses reservatórios podem causar grandes efeitos na concentração atmosférica. A pesquisa mostra que a acumulação de carbono nessas florestas foi, em média, de apenas 1,08 Mg ha-1 ano-1, bem menor do que estimativas anteriores, que são antigas ou vêm de outras áreas da Amazônia. A riqueza de espécies foi efetivamente constante durante o período estudado, e muito abaixo dos valores de florestas primárias mais próximas. Além disso, o estudo traz evidências de que as florestas secundárias são vulneráveis às secas mais severas.
“Esses resultados destacam um retorno importante da mudança climática-vegetação, pelo qual o aumento da estação seca, observado em partes da Amazônia, pode reduzir a eficácia das florestas secundárias no sequestro de carbono e soluções das mudanças climáticas”, destaca o pesquisador.
Florestas Secundárias e Política Pública
Florestas secundárias são consideradas uma esperança nas políticas globais de mitigação das mudanças climáticas pela redução de dióxido de carbono atmosférico. Isso porque geralmente essas florestas apresentam crescimento rápido, absorvendo grandes quantidades de carbono durante esse processo. “Entretanto, nossos resultados indicam que a absorção de carbono dessas florestas em regiões altamente fragmentadas e desmatadas, como a região Bragantina, é mais lenta do que se pensava. Considerando os níveis atuais de desmatamento e degradação na Amazônia, é possível que o cenário observado na região Bragantina possa ser extrapolado para outras regiões amazônicas em médio e longo-prazo, o que seria alarmante para as políticas ambientais de mitigação das mudanças climáticas”, diz o biólogo Fernando Elias.
“Os resultados das nossas pesquisas, Rede Amazônia Sustentável (Ras), ajudam a orientar políticas de restauração florestal na Amazônia, permitindo identificar áreas prioritárias para intervenções, de forma complementar à regeneração natural”, diz Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental.