Estudo aponta riqueza da identidade do brasileiro pelo uso do vocabulário
Como você nomeia o tradicional alimento da culinária brasileira que é uma raiz branca por dentro, coberta por uma casca marrom? Se respondeu mandioca, macaxeira ou aipim, saiba que tanto faz porque todas as variações são válidas. A riqueza do vocabulário do País são traços marcantes da identidade do brasileiro.
Com o intuito de mapear a variação do vocabulário na região Sudeste, uma pesquisa do Departamento de Estudos da Linguagem da Universidade Federal de Lavras (DEL/UFLA), coordenada pelo professor Valter Romano, fez a mesma pergunta para 316 pessoas de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. O estudo revelou a recorrência apenas do uso dos termos aipim e mandioca.
“Mineiros e paulistas falam principalmente mandioca, enquanto cariocas e capixabas usam a palavra aipim. Na hora de denominar as variações desse alimento, os entrevistados não disseram macaxeira”, informou o pesquisador, que está aplicando o mesmo questionário para a população das demais regiões do País.
O pesquisador interpreta esses resultados a partir de fenômenos sociolinguísticos, como os movimentos migratórios ocorridos no Brasil. “Essa raiz tuberosa marca a brasilidade do País à medida que resgata informações da nossa identidade, inclusive do período anterior à chegada dos portugueses na América do Sul. Tanto é que está presente em mitos e lendas indígenas. Na região Norte, ela representa um dos produtos mais importantes da agricultura local”, explica.
A falta de conhecimento a respeito do tema também causa curiosidade e erros, segundo o pesquisador. “É comum se acreditar que aipim é usado apenas no Rio de Janeiro, o que não é verdade”, afirma.
Atlas Linguístico do Brasil
A pesquisa faz parte do projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB) que, em conjunto com outras universidades e dirigido por comitê nacional do qual Valter Romano integra, pretende mapear a grande variação da fala brasileira, tanto do ponto de vista lexical quanto fonético. Para isso, são aplicados diversos tipos de questionários.
No caso da variação vocabular da mandioca, resultados preliminares já apontaram, por exemplo, que o termo aipim volta a ser usado no litoral sul de São Paulo, litoral do Paraná, parte de Santa Catarina e se espalha no Rio Grande do Sul. “Encontramos o uso da palavra aipim, principalmente, no feixe leste do território nacional. Mandioca é falado mais em Minas Gerais, São Paulo, no norte do Paraná, regiões Norte e Centro-oeste”, adianta. No Nordeste sobressai o uso da expressão macaxeira.
Já para quem vive no Nordeste e Norte do Brasil, mandioca nomeia o tipo de raiz sem finalidade alimentícia por ser venenosa, que também pode ser chamada de mandioca brava.
Reportagem: Pollyanna Dias, jornalista- bolsista
Edição do vídeo: Eder Spuri – Comunicação / UFLA