A pandemia causada pelo coronavírus trouxe à tona grandes desafios ao ensino superior e básico. Durante séculos, o modelo educacional brasileiro se consolidou em meio ao escasso uso de tecnologia e centralidade na figura do professor. Depois de oito meses de ensino remoto, uma das principais dificuldades para a adaptação dos professores, estudantes e escolas continua sendo ministrar aulas práticas. Um entrave que o professor e pesquisador do Departamento de Ciência Exatas da Universidade Federal de Lavras (UFLA), na área de Ensino de Física, Ulisses Azevedo Leitão, superou com uma inovação.
Para garantir o aprendizado prático da Física em laboratório, o docente criou o RLab, um laboratório remoto. O sistema é composto por chips, placas, lâmpadas e outras tecnologias que, aliadas e conectadas à programação, reproduzem a experiência de um laboratório real. Basta o estudante ter acesso à internet para testar conceitos da Física, com experimentos de termodinâmica e eletricidade.
“O projeto prova que algumas atividades experimentais podem ser executadas em ensino a distância. Com o laboratório remoto, o estudante opera o laboratório de casa. Ao realizar um comando, por exemplo aplicar uma tensão num circuito elétrico ou ligar o aquecimento em um Calorímetro, o mecanismo executa a ação. O estudante acompanha o que está ocorrendo no Laboratório, que manda imagens em tempo real, apresenta os gráficos, bem como os dados do experimento realizado para análise do estudante, exatamente como numa prática de laboratório presencial”, explica Ulisses Azevedo Leitão.
O protótipo vem sendo usado por estudantes de Licenciatura em Física da UFLA, além de estudantes do ensino médio de escolas públicas e particulares em Nova Serrana e em Lavras. Com interface simples e didática, eles já desenvolveram experimentos de medidas de corrente elétrica em função da diferença de potencial elétrico medido por resistores (Lei de Ohm), medida de descarga de um capacitor em um circuito RC e medidas de calor específico, medindo a resposta de substâncias ao calor.
“O próximo passo é criar um robô que permite trabalhar conceitos da Física que envolvem movimento, como filmar uma caneta caindo. Para cada experimento, é preciso fazer laboratório diferente”, ressaltou o professor, que vem correndo contra o tempo desde abril devido à urgência de preparar aulas interativas, criar didática que mantenha a concentração e garantir o aprendizado.
Mais opção
O ensino remoto virou única opção. Educadores se desdobram no país inteiro com técnicas à disposição. Uma delas é o envio de kits itinerantes para casa dos estudantes. “Eles não vencem o drama causado na educação durante o isolamento porque o aluno faz o experimento sozinho. Contudo, ninguém aprende sozinho. É da interação social que acontece a aprendizagem”, afirma o docente.
Por isso, o projeto RLab possibilita que os estudantes trabalhem em conjunto. “Nossa alternativa reproduz uma experiência real em laboratório, em que soluções e problemas reais são feitos a distância, com a interação via chat entre alunos e professor. Pelo bate-papo, alguém pode dar o comando enquanto o outro acompanha o que está acontecendo”, conta o professor Ulisses Azevedo Leitão, da área de Ensino de Física.
Reportagem: Pollyanna Dias, jornalista- bolsista
Edição do vídeo: Eder Spuri – Comunicação / UFLA